Com uma escrita metódica mas repleta de criatividade, Aline Martins, poeta de longa data, estreia com Grão. Nesta obra, a autora aborda o transformar-se como uma característica inerentemente humana, seja essa transformação vista a olho nu, como a metáfora contida em “Exílio”, seja mais sutil, como em “Sacerdócio”, seja pela ruptura com o simbolismo de cinzas – que se despem da noção de finitude para espalharem-se e semearem do prelúdio ao poslúdio.
Ao recorrer a um conjunto lexical expressivo, norteado por alusões ao concreto do mundo, Aline escreve como quem entalha uma cerâmica. A cada página, seu estilo cortante provoca uma sensação inquietante de estranhamento e curiosidade.
Enxergando a poesia como um exercício contínuo de diferentes possibilidades e novos encaixes, ao articular alegorias sólidas com aspectos comoventes – como amar, sentir saudades, reinventar-se –, Aline nos convida a experimentar, a descobrir sua obra.