Laços de família, publicado pela primeira vez em 1960, é um tesouro da ourivesaria literária. São treze contos, hoje tidos como clássicos. Entre eles, os festejadíssimos "Amor", "O crime do professor de Matemática", "O búfalo" e "Feliz aniversário", adaptado para a televisão por Ziembinsky.
Neles os personagens são sempre surpreendidos por uma modalidade perturbadora do insólito, no meio da banalidade de seus cotidianos. Clarice cria situações onde uma revelação, que desconstrói e ameaça a realidade, desvela a existência e aponta para uma apreensão filosófica da vida. Em Laços de família, Clarice aprofunda sua técnica narrativa em uma abordagem quase fenomenológica.
Trata a solidão, a morte, a incomunicabilidade e os abismos da existência através da rotina de dona-de-casa ("Devaneio e embriaguez duma rapariga", "Amor", "A imitação da rosa"), do mergulho trágico em uma festa familiar nos 89 anos da matriarca ("Feliz aniversário"), da domesticação da natureza mais selvagem das mulheres ("Preciosidade", "O búfalo"), ou dos pequenos crimes cometidos contra a consciência, como o drama do professor de Matemática diante do abandono e da morte de um animal. São lições de vida na prosa definitiva e transcendente de uma sacerdotisa da nossa literatura.