Mensagem é o livro mais polêmico que se publicou em Portugal: sobre ele se dividem, desde 1934, opiniões apaixonadas e contraditórias. Vejam-se alguns exemplos: um livro admirável (José Régio); não pode aspirar a um lugar de primeiro plano no conjunto da obra de Pessoa (Adolfo Casais Monteiro); é a verdadeira imagem de Portugal (David Mourão-Ferreira); um panteão imaginário das mais convencionais glórias pátrias (Óscar Lopes); obra-prima de Pessoa, é a nota final e incitante de toda a sua obra (António Quadros); é uma obra falhada (João Gaspar Simões); tentativa lograda de epopeia moderna (Miguel Ángel Viqueira); obra épica malograda (Taborda de Vasconcelos); a mais importante das obras de Pessoa (Agostinho da Silva); revela apenas um aspecto da personalidade do seu Autor (Peter Rickard); é um livro extraordinário e harmonioso (Lúcio Cardoso); sendo a obra mais completa do Autor em perfeição formal, é todavia, um livro fabricado (Octavio Paz); a sua proposta é diametralmente oposta ao dogmatismo autoritário do Estado Novo (Ángel Crespo); só encontra o seu lugar no espaço político salazarista (Alfredo Margarido); é o produto de um esoterismo "a frio", assumido no plano do fingimento (Joel Serrão); leva a considerar Pessoa como um dos grandes poetas da estruturação (Roman Jakobson e Luciana Stegagno-Picchio); para a entender, é essencial ter em conta a ironia imanente no intertexto pessoano (Jacinto do Prado Coelho); será, afinal, mais uma metamorfose sabiamente maquinada pelo génio malicioso do seu Autor (Pierre Hourcade); poderá ser interpretada como uma versão modernizada de Os Lusíadas (Eliana M. S. Donaio); sendo uma pura aventura iniciatica, é a sepultura de Os Lusíadas (Eduardo Lourenço); é o frontispício de toda a obra de Pessoa e o seu grande opus alquímico (Gilberto de Melo Kujawski); texto estrita e misteriosamente iniciático (Armand Guibert); não é uma obra esotérica: a sua chave hermenêutica tem o carácter de construção racional (Onésimo Almeida); etc., etc., etc.
Todos os pessoanos ficam, a partir de agora, gratos a Cleonice Berardinelli e a Maurício Matos pela serenidade e pelo rigor desta nova edição, em boa hora publicada na ortografia original. Entre os beneficiados reconhecidamente me incluo. (José Blanco)