Nadja é fundamental por vários motivos: além de preciosa introdução ao universo dos surrealistas, foi o anti-romance que abriu novos caminhos para a literatura, acentuando sua desconfiança no romance realista e anunciando a fragmentação do homem contemporâneo, repleto de dúvidas sobre sua identidade e dividido em infinitos corpos. A vida, como dizia Breton, autor do Manifesto Surrealista de 1924, além de não ser previsível, é diferente do que se escreve. Portanto, não faria sentido ter em Nadja um narrador onisciente e íntegro.
Breton convida o leitor a duvidar até mesmo de seu relato a partir da primeira frase do livro, 'Quem sou?', admitindo desempenhar em vida o papel de um fantasma, que pode ser um desdobramento da própria Nadja, mulher enigmática e pobremente vestida que ele cruza no dia 4 de outubro de 1926 na Rue Lafayette, após deter-se alguns minutos diante da vitrine da livraria do L'Humanité e comprar um livro de Trotski.