Um simples acidente deflagra a trama: um táxi sai da pista que segue para o aeroporto de Viena e cai num barranco. O casal de passageiros morre na hora. O motorista conta que se distraiu ao ver pelo retrovisor que eles “tentavam” se beijar. Os dois mortos eram albaneses. Seria um casal comum, não fosse ele um colaborador do Conselho da Europa, especialista em assuntos balcânicos. Isso bastou para que os serviços secretos da Sérvia e da Albânia decidissem investigar o caso. Depois da decomposição da antiga Iugoslávia, nada mais parecia tão simples naquele caldeirão explosivo: trocar um beijo poderia ser tão difícil quanto viver em paz.
Com grande habilidade narrativa, Kadaré compõe seu romance a partir de indícios recolhidos pelo inquérito policial. O dossiê se completa com o testemunho de amigos das vítimas, cartas pessoais e o diário da jovem e bela Rovena, a amante do analista político. Aos poucos, o leitor vai percebendo como uma relação amorosa cada vez mais perversa espelha e absorve os impasses políticos que envolviam a Albânia, a Sérvia e a província de Kosovo, em pleno turbilhão da Guerra dos Bálcãs.