O Arcaísmo Como Projeto, de João Fragoso e Manolo Florentino, propõe que na passagem do século XVIII para o seguinte (que chamamos aqui de período colonial tardio), os estabelecimentos rurais da colônia, ao não demandarem altos investimentos iniciais, podiam ser expropriados de parcela expressiva de seu excedente pelo capital mercantil e usurário, sem que disso derivasse o seu desaparecimento. Assim, estava dada a pré-condição para, sem maiores riscos, configurar-se uma hierarquia econômico-social cuja base se identificava com os agentes ligados à terra, e o topo com aqueles vinculados às atividades mercantis e prestamistas. Esse é o foco principal de O Arcaísmo Como Projeto. A natureza estrutural do tipo de hierarquia que se instalou no Brasil, é esclarecida em O Arcaísmo Como Projeto quando se observa que o acesso a terras e a homens baratos também permitia ao homem livre pobre tornar-se lavrador. Entretanto, desde o início ele se via expropriado de parte da produção social, estando-lhe vedadas as atividades mais lucrativas - as mercantis, sobretudo as vinculadas ao comércio exterior, as quais, desse modo, erigiam-se à condição de campos exclusivos dos agentes detentores de liquidez. Logo, a mobilidade existia enquanto um mecanismo viabilizador da inserção dos agentes no processo produtivo stricto sensu. Uma vez concretizado, tal movimento ensejava a reprodução da diferenciação excludente.