O mais estranho dos países pode ser dividido em duas seções. Na primeira metade, com textos centrados nos anos 1960, Paulo Mendes Campos dedica-se à exaltação do Brasil. Eram tempos do nascimento da bossa nova, do cinema novo, a arquitetura e o futebol encantavam o mundo com seu atrevimento ensolarado.
Embora arrebatada, porém, sua prosa é concisa, elegante e com olho fino para a fatura precisa da frase, isso sem falar no ritmo hipnótico mas dinâmico, ritmo de poeta — e a expressão “prosa poética”, tantas vezes usada para tratar pejorativamente um texto meloso e molenga, encontra sua mais perfeita tradução nas descrições que o autor faz de
Minas, do Rio, de São Paulo, Bahia, Pernambuco, Amazônia.
Há ainda textos de importância histórica imprescindível — como a crônica em que retrata o processo de criação de Murilo Rubião, que levou 26 anos para finalizar um conto, ou a memória da obscura revista Comício, que estrelou em sua redação um time inacreditável: Rubem, Vinicius, Millôr, Otto, Sabino, Clarice, Antonio Maria e Sergio Porto.
A segunda metade é devotada à arte do perfil — e Paulo Mendes Campos tinha grandes personagens e anedotas sensacionais à disposição. Preciosos são justamente os perfis dos amigos, tão ternos quanto informativos no detalhe. Definições arrebatadoras: “Ari Barroso não foi tão assíduo quanto Antônio Maria no Ministério da Noite, mas não chegou a ser um
funcionário relapso”. Palavras de um autor arrojado e sempre em busca da frase definitiva.