Reflexões em Filosofia, Teologia e Teoria Social
Pouco a pouco, vai-se erigindo o edifício do pensamento reformacional no Brasil. Depois da publicação de obras de alguns dos principais representantes do chamado neocalvinismo holandês, como Abraham Kuyper, Herman Dooyeweerd e Hans Rookmaaker, e de pensadores influenciados por essa tradição, entre os quais avulta o nome de Francis Schaeffer, é chegado o momento de refletir a respeito da assimilação de tais autores no cenário brasileiro e de pô-los em diálogo com o tipo de teologia produzido por aqui.
O livro de Josué Reichow nos é útil em mais de um sentido. Em primeiro lugar, porque assume o desafio de situar o pensamento de Dooyeweerd no contexto mais amplo da chamada filosofia moderna. Ainda que a discussão pareça um pouco sofisticada, é importante para deixar claro em que aspectos a maneira cristã de filosofar se distingue da maneira moderna. Em segundo lugar, há um verdadeiro esforço didático de apresentar as origens do movimento neocalvinista holandês bem como as ideias centrais do pensamento dooyeweerdiano (cosmonomia, ontologia modal, motivos-base etc.). Depois disso, o autor passa a usar o referencial teórico da filosofia cosmonômica, nome pelo qual também é conhecida a perspectiva do autor holandês, para tratar de questões como a relação entre cristianismo e cultura e para iniciar um diálogo com linhas de pensamento teológico já expressivas na América Latina, como a Teologia da Missão Integral e a Teologia da Libertação.
Como o próprio Reichow deixa claro, trata-se de um diálogo incipiente, que ainda aguarda desdobramentos mais maduros. Seja como for, o livro funciona como uma reafirmação de que o cristianismo não se restringe apenas a uma fé privada, mas, ao contrário, tem muito a dizer sobre todas as esferas da sociedade. Mais do que isso: é uma verdadeira proclamação da soberania de Deus sobre o todo da vida.