“Às vezes, quando a própria alma se dobra em seu invólucro de carne, a mais vil criatura deseja o milagre, e, se não sabe rezar, ao menos por instinto abre-se a Deus, como uma boca se abre para respirar.”
Em meio a uma sociedade devorada pelo mal, Padre Donissan conduz o seu ministério em uma humilde paróquia, provando a vontade ao mesmo tempo heroica e desesperada de salvar almas. Neste drama terrestre e celeste, o pobre padre é tocado no coração pelo desespero de Mouchette, uma adolescente que, assolada pelo mal, decidiu-se pelo abismo. Por reconhecer na jovem uma alma fraterna, compromete sua vida e salvação para tentar redimi-la. Essa luta sobrenatural e cheia de angústias o levará ao caminho estreito da santidade.
Em Sob o sol de Satã, Bernanos manifesta o seu “magnífico dom de tornar natural o sobrenatural”, como disse Mauriac: captura o leitor, tão afeito ao cotidiano e a desviar o olhar dos verdadeiros mistérios da vida, e o coloca diante da presença do “invisível inimigo”, da luta travada entre o mal e a santidade. É o primeiro romance de um dos grandes escritores do século XX.