Tem laço que é nó. Bem ali, no meio da garganta, um caroço que não se deixa engolir. Um incômodo que é tão grande que pode mudar até o destino. Todo mundo tem mãe, Catarina é uma frase assim, jogada ao vento, no meio da cara de uma menina de cinco anos, uma Catarina que depois vai ter doze, depois quinze, depois muitos. Uma Catarina que precisa descobrir a sua história, para poder contá-la. E Carla Guerson faz isso sem concessões, jogando tudo no meio da nossa cara, e veja: a gente gosta.
Porque a história de Catarina, da vó Amélia, da mãe que não parece mãe (não?), da Marilena, e da Suzana, é fascinante, e toca fundo num lugar essencial, íntimo, mas também universal. Todo mundo tem mãe, e a história dessas mulheres que são tantas outras, que poderia ser eu, que talvez seja você, é bonita mesmo em sua imperfeição, na luta por se descobrir, na luta por continuar.
Uma narradora menina, mas que é tão imensa que entra, sem dúvida, para um restrito rol de personagens inesquecíveis. Isso é grande demais. E nem todo mundo faz, Catarina.
Marcela Dantés