Obra Completa de Augusto dos Anjos

Obra Completa de Augusto dos Anjos Augusto dos Anjos




Resenhas - Obra Completa de Augusto dos Anjos


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Ivana M. 30/09/2024

Supremo
Augusto dos Anjos é, sem sombra de dúvida, meu poeta favorito, e isso se deve não apenas ao conteúdo visceral de suas obras, mas à maneira como ele transforma a dor e a morte em arte. Ao mergulhar em sua poesia, sinto-me transportado a um mundo onde a existência humana é despida de ilusões confortáveis, revelando-se como um fenômeno biológico permeado por degradação, morte e miséria. Sua obra tem um caráter único, onde o cientificismo e o simbolismo se entrelaçam, criando versos que vibram de uma sinceridade crua e inegável.

Ler Augusto dos Anjos é como confrontar diretamente os aspectos mais sombrios e inevitáveis da condição humana. Ao longo de sua obra, especialmente em Eu e Outras Poesias, o autor lida com a decomposição física e emocional, um exercício poético que rompe as convenções do lirismo clássico. Ele não se contenta em descrever a beleza etérea ou o amor idealizado, mas sim explora a matéria humana em sua forma mais elementar, questionando a inevitabilidade da decadência e o destino inexorável da morte. Versos como "A mão que afaga é a mesma que apedreja" revelam a dualidade da existência, a ambivalência dos gestos e a constante luta interna entre destruição e esperança.

A obra de Augusto é, para mim, um reflexo perfeito da transição entre o simbolismo e o modernismo, uma síntese poética que conjuga a musicalidade e o mistério com uma visão de mundo brutalmente naturalista. Seus poemas falam da fusão do homem com a matéria, do retorno ao pó, e há algo profundamente tocante em como ele emprega termos científicos para reforçar a universalidade e inevitabilidade dessas experiências. Quando ele menciona átomos, células e forças vitais, é como se Augusto se colocasse como um cientista das emoções, buscando uma explicação lógica para os sentimentos humanos.

A leitura de seus versos sempre me deixa fascinado por sua habilidade de transformar o medo e a dor em algo quase sublime. Sua linguagem densa, às vezes hermética, exige uma leitura atenta, mas recompensa com uma profundidade emocional rara. A visão sombria e fatalista do autor não se reduz ao pessimismo vazio; pelo contrário, há uma aceitação melancólica da condição humana que me comove profundamente. Augusto dos Anjos ensina, a seu modo, a encontrar beleza na decomposição, na decadência inevitável que nos iguala a todos, lembrando-nos de que, em última análise, somos todos feitos da mesma poeira cósmica.
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Angelohfonseca 04/01/2021

Uma merecida homenagem
Sempre fui fã de Augusto dos Anjos, desde pequeno, graças a meu pai, que também era fã dele. Ganhei esse livro de presente, e cheguei até a chorar de emoção quando o recebi. Nem todos gostam de Augusto, por sua escrita mórbida. Mas, Poeta da Morte, é Poeta da Morte. Salve, Augusto!
05/01/2021minha estante
Deu vontade de ler


Elsio 30/08/2022minha estante
Augusto para mim é um dos maiores poetas do mundo, ele sintetiza, como poucos, a existência humana, em seus poemas.
Inspirei-me nele para escrever este poema e já deixo aqui meu pedido de desculpas por ter a ousadia e a desfaçatez de querer imitá-lo.



No inferno da visão alucinada,
Viu montanhas de sangue enchendo a estrada,
Viu vísceras vermelhas pelo chão ...

E amou, com um berro bárbaro de gozo,
o monocromatismo monstruoso
Daquela universal vermelhidão!

Augusto dos Anjos



Que faço eu, altas horas..., neste cemitério?
O que vim buscar aqui... Deitando-me sobre as tumbas?
É meia-noite... Começam as danças sepulcrais,
Onde corpos combalidos, freneticamente vão dançando
A última valsa dos mortais...

Que busco ver, neste funéreo baile?
Será o prazer de contemplar a humana decomposição...?
Será o enlevo dos abutres vorazes
A se esbaldarem neste tétrico jardim...?
Ou será o repulsivo júbilo dos vermes
A se banquetearem neste fúnebre festim...?

As horas passam... A necrópole horrenda, desperta...
E num lúgubre cortejo de vísceras expostas,
Vão cantando nênias de maldição,
Violando o silêncio das catacumbas,
Num festival de membros em dissolução...

A madrugada avança...ouço gargalhadas...
É a multidão dos corpos dissipados,
Rindo da torpe veracidade dos diagnósticos,
Da fria onisciência dos médicos,
Da tosca inutilidade das orações.
Rindo, talvez... Da parda esterilidade dos remédios...
Da híbrida onipotência dos cirurgiões.

De Hyppólito (Elsio Poeta)




Francisco Cabral 25/06/2014

Augusto-Dukkha
Augusto parece ser incapaz de felicidade. Dono de um materialismo científico que chega a ser cruel, para ele até mesmo o maior lampejo de prazer chega a ser bestial. Não poupa aos outros e muito menos a si mesmo quando recorre sistematicamente ao tema da morte e da efemeridade do ser humano. Contempla obsessivamente a progressiva decadência das funções orgânicas antevendo o fim da vida, expõe e vasculha as excreções e secreções do próprio corpo que o homem civilizado teima em recalcar. Sua esperança parece ser um encontro holístico com os elementos naturais, comungar do destino cosmológico de tudo quanto é material e fluido, como o pensamento e o amor.

"Como quem esmigalha protozoários
Meti todos os dedos mercenários
Na consciência daquela multidão...

E, em vez de achar a luz que os Céus inflama,
Somente achei moléculas de lama
E a mosca alegre da putrefação!"
Trecho de Idealização da Humanidade Futura.
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Radamés 02/09/2013

O Imortal Augusto dos Anjos
Essas palavras descrevem tudo o que os poemas de Augusto são. "A fragmentação e o caos, o Nirvana e o pulsar inescrutável da vida da matéria, a unidade e a metamorfose, o horror à incompletude e a ataraxia permanente ante as formas que não chegam a ser, a fala paralisada no molambo da língua, a fatalidade do apodrecimento e a impossibilidade de iludir a Morte, tudo isso e o riso irônico ante a carne que desmancha e o verme que a devora - eis os acordes que Augusto dos Anjos vai tirando de sua lira estacionada nas cercanias do novo círculo do inferno, na verdade a entrada que elegeu para devassar o coração da poesia. De fato o poeta chega a ela numa trajetória que lembra a descida de Dante às paragens infernais do Letes, como que traduzindo em termos alegóricos, à semelhança da Divina comédia, a viagem de uma alma inquieta pela obsessão das origens."
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