Elsio 30/08/2022minha estanteAugusto para mim é um dos maiores poetas do mundo, ele sintetiza, como poucos, a existência humana, em seus poemas.
Inspirei-me nele para escrever este poema e já deixo aqui meu pedido de desculpas por ter a ousadia e a desfaçatez de querer imitá-lo.
No inferno da visão alucinada,
Viu montanhas de sangue enchendo a estrada,
Viu vísceras vermelhas pelo chão ...
E amou, com um berro bárbaro de gozo,
o monocromatismo monstruoso
Daquela universal vermelhidão!
Augusto dos Anjos
Que faço eu, altas horas..., neste cemitério?
O que vim buscar aqui... Deitando-me sobre as tumbas?
É meia-noite... Começam as danças sepulcrais,
Onde corpos combalidos, freneticamente vão dançando
A última valsa dos mortais...
Que busco ver, neste funéreo baile?
Será o prazer de contemplar a humana decomposição...?
Será o enlevo dos abutres vorazes
A se esbaldarem neste tétrico jardim...?
Ou será o repulsivo júbilo dos vermes
A se banquetearem neste fúnebre festim...?
As horas passam... A necrópole horrenda, desperta...
E num lúgubre cortejo de vísceras expostas,
Vão cantando nênias de maldição,
Violando o silêncio das catacumbas,
Num festival de membros em dissolução...
A madrugada avança...ouço gargalhadas...
É a multidão dos corpos dissipados,
Rindo da torpe veracidade dos diagnósticos,
Da fria onisciência dos médicos,
Da tosca inutilidade das orações.
Rindo, talvez... Da parda esterilidade dos remédios...
Da híbrida onipotência dos cirurgiões.
De Hyppólito (Elsio Poeta)