JCarlos 16/05/2020
Um mal milenar acaba de despertar
Na literatura de horror, o medo, suspense e passagens impactantes são situações bastante comuns e apreciadas pelos amantes do gênero. Contudo, a imersão em uma trama fantástica demanda uma excelência de escrita que foge a muitos que procuram contar uma boa história.
Felizmente, não é o caso de Theodore?Eibon? Donald Klein. Em seu romance, de mais de 600 páginas, os elementos narrativos são lentamente apresentados, mas necessários para criar a atmosfera perfeita e alcançar um desfecho eletrizante.
A história pode até parecer lugar comum, daquelas situações lidas aqui, assistidas acolá. Um mal milenar. Um estudante citadino que encontra em uma comunidade pacata, região de matas e pântanos, o lugar ideal para escrever sua dissertação sobre literatura gótica. Uma jovem bibliotecária que o acompanha. Anfitriões ? e praticamente toda a comunidade ? apegados à rigidez de dogmas e fundamentalismos religiosos. E cerimônias, engendradas passo a passo, necessárias ao despertar lovecraftiano de um mal que deveria permanecer no esquecimento.
A trama se passa na década de 80, em Gilead, comunidade rural de Nova Jersey, nos Estados Unidos. No decorrer da leitura, percebe-se uma similaridade com King, pelo poder descritivo, pelo tema abordado e número de páginas. Mas a medida que se avança a leitura, dá para diferenciar e identificar uma escrita única, tão única que o autor nenhum romance mais escreveu, numa estranheza só.
?Na escuridão da mata, junto a um pequenino altar de barro à margem do pântano, estrondosas vibraçõesrasgaram o solo da floresta lançando ao ar grandes pedras.? - p. 562
Há que se destacar ainda as inúmeras citações que o autor apresenta. Um panteão de escritores góticos, desfilando no decorrer do texto referências a Stocker, Machen, Ashton Smith, Hawthorne e outros que vão se correlacionando com as leituras que o protagonista vai realizando para sua tese ou mesmo no próprio contexto da obra.
As vinte páginas finais apresentam uma cataclísmica conclusão, de gelar o sangue e prender a respiração.
Fora de catálogo, merecia uma reedição, principalmente com uma nova capa. E novo título, menos apelativo. Um daqueles livros que o trabalho gráfico não me cativou.
Mas, se o encontrar por aí, vale a leitura.
É isso.
?A Lua contemplou silenciosa o seu beijo, as estrelas fitaram no friamente, e se houver alguma sua promessa, nenhum sinal deram de tê-lo ouvido.? - p. 636