Lekatopia 29/09/2015
Boring
Posso começar dizendo que será uma tarefa difícil falar sobre Calafrio. Não, eu não gostei do livro. Ao mesmo tempo, não posso simplesmente esculachá-lo sem maiores explicações, e está aí minha maior dificuldade: buscar explicações de porque não aprovei a estória de Sam e Grace.
Então, vamos lá. Calafrio (Shiver, no original) é o primeiro livro da trilogia “Os Lobos de Mercy Falls”, escrita por Maggie Stiefvater e composta ainda por Linger e Forever, este último com previsão de lançamento para julho deste ano nos EUA. A estória nos apresenta Grace, uma estudante do ensino médio que fora mordida por lobos na infância enquanto brincava no balanço de sua casa, localizada nas proximidades de um bosque habitado por esses animais. Grace lembra-se apenas de ter sido salva por um lobo com olhos amarelos, que nos anos que se seguiram estava sempre rondando a casa de Grace, observando-a a distância. A protagonista desenvolve, então, um encantamento por estes animais e, em especial, pelo lobo que a salvou.
No último ano de Grace no colegial, Jack Culpeper, um detestável colega de escola, aparece morto, atacado por lobos. Tal fato desencadeia uma comoção na cidade de Mercy Falls e dá vazão a uma caça aos lobos organizada pelos moradores locais. E é nesse cenário que Grace conhece Sam, um garoto que aparece na varanda de sua casa, desnudo e atingido por um tiro, com os mesmos olhos amarelos do lobo que a havia salvado anos antes. E ela não tem dúvidas que Sam é o “seu” lobo, mas agora em forma humana.
Esse é um resumo básico e sem spoilers da estória de Calafrio, que é, antes de tudo, uma estória de amor entre Sam, um lobisomen (duh), e Grace. A primeira metade do livro foca-se basicamente na relação entre os dois, relação esta que, devo dizer, não me agradou.
Sabe aqueles amores platônicos, em que um se sacrificaria pelo outro sem nunca ter trocado mais de meia dúzias de palavras com o objeto de afeição? Aquele ideal de amor romântico no melhor estilo Lord Byron e século XVIII? Exatamente. É isso que você vai encontrar em Calafrio. Não que seja ruim, mas não é o tipo de romance sobre o qual eu gosto de ler. E gostaria de frisar esse ponto, porque o relacionamento entre os dois não é mal desenvolvido (e eu estaria sendo injusta se afirmasse isso), mas é desenvolvido nessa linha e, pessoalmente, ela não me agrada.
E o próximo livro que eu ler com um casal absolutamente dependente um do outro será queimado. De verdade.
Li uma resenha em inglês para “Os Lobos de Mercy Falls” que afirmava: “Calafrio é Crepúsculo se Bella tivesse escolhido Jacob”. Exagero? Possivelmente, mas fica difícil não traçar um ou outro paralelo. E agora entendo a frase do The Observer na capa do livro: “Se você é fã de Crepúsculo, vai amar Calafrio”. Verdade. O tipo de amor retratado em ambos é bastante similar, mas Calafrio tem muitos méritos que a saga (gasp) dos vampiros brilhantes não. Por isso, numa dedução lógica, digo: se você gostou de Crepúsculo, é quase impossível não gostar de Calafrio; se não gostou, dê uma chance à Calafrio caso esse tipo de romance te agrade; e, se não gostou de Crepúsculo e acha Lord Byron um chato, passe longe da estória de Mercy Falls!
E que méritos são esses que Crepúsculo nem sonha em possuir? Acho que podemos sintetizar com quatro palavras: Calafrio é bem escrito. Maggie Stiefvater é fantástica. Ela escreve de modo poético (que as vezes soa forçado, mas funciona na maior parte do tempo) e te faz ter uma estranha sensação de frio o tempo todo durante a leitura (tomem nota: caso queiram le Calafrio, favor fazê-lo durante o verão para comprovar esse estranho fenômeno). É bizarro, de um jeito muito legal. E tem tudo a ver com o título e a estória.
Quanto às personagens, Grace é ousada e prática, e não pira a la Bella Swan e “Os sofrimentos do Jovem Werther” durante o livro. Sam, num contraponto interessante, é artístico e tímido. Mas gostaria de informações adicionais sobre os dois além de que Sam curte poesia alemã e Grace – bem, há algo no livro sobre os hobbys de Grace? Porque se há, é uma menção tão breve que eu não percebi. E isso é uma pena, porque são essas pequenas coisas que humanizam as personagens e te fazem se apegar a elas. Nenhum dos protagonistas me conquistou ou me fez torcer por eles. E, confesso: sei que todo mundo amou, mas eu achei os versinhos de Sam ridículos, no melhor estilo “estou revirando os olhos enquanto leio isto, cara”.
Mas, vamos em frente! Os capítulos são curtos e os pontos de vista de Sam e Grace são intercalados em uma narrativa em primeira pessoa. Isso é algo que muita gente elogiou e, para mim, não fez lá muita diferença, considerando que nem um dos protagonistas me agradou. Reconheço que esse recurso nos permitiu conhecer mais sobre um maior número de personagens secundários e entender melhor determinados eventos, pois sabíamos o que estava acontecendo pelos dois lados. Por outro lado, também serve para matar o suspense, porque o que umas das personagens ainda não sabe, nós já sabemos pelo ponto de vista da outra.
Falando em suspense, as últimas 100 páginas do livro são muito menos “Sam e Grace: uma estória de amor” (o que, reconheçam, daria um ótimo título de reality show com subcelebridades no canal E!) e muito mais ação, com algumas boas surpresas, mas nada que você já não tivesse imaginado. Talvez se o livro todo seguisse esse ritmo, eu tivesse considerado Calafrio uma leitura mais prazerosa. E não é porque eu não gosto de uma abordagem mais subjetiva, focada em relacionamentos (“A insustentável leveza do ser” é um dos meus livros favoritos, e é super intimista), mas porque a primeira metade de Calafrio foi para mim simplesmente...chata.
Em suma: não gostei de Calafrio, mas isso não significa que seja um livro ruim. Queria MUITO amar essa estória após todos os comentários positivos que recebi a respeito, mas não deu.
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