Caíque Apolinário 25/07/2024
Um dos melhores livros que já li, simplesmente
“Canções para ninar menino grande”, de Conceição Evaristo, é uma obra que explora as complexidades das relações de gênero e a construção da masculinidade. Através da jornada de Fio Jasmim, o protagonista, o livro aborda a evolução de um homem que inicialmente não assume responsabilidades afetivas com as mulheres em sua vida, mas que gradualmente ganha consciência de suas ações e sentimentos, de seu lugar no mundo.
Fio Jasmim está com 44 anos e começa a relembrar, junto com a narradora, sobre todos os seus casos de sexo casual que tiveram cada qual uma consequência diferente. Na juventude, ele era um maquinista que carregava produtos de cidade em cidade no Brasil, passando por sudeste, centro-oeste e nordeste. É fácil a identificação com as regiões e suas realidades, assim como a identificação com o protagonista e as mulheres com quem se relaciona.
As mulheres na história são fortes e decididas, formando alianças para se compreenderem e apoiarem mutuamente. Elas não dependem do amor inconstante de Fio Jasmim, refletindo uma mensagem de empoderamento feminino e crítica à masculinidade tóxica. A narrativa é contada a partir da perspectiva dessas mulheres, destacando suas histórias e a solidariedade entre elas. Além de entrelaçar com a perspectiva de Jasmim, que é impulsionado pelas masculinidades ao seu redor.
O livro também reflete sobre os estereótipos de gênero e como eles moldam as expectativas e comportamentos nas relações interpessoais. Conceição Evaristo utiliza a ficção para trazer à tona temas eternos, modificando-os e incorporando elementos de fábula e fantástico que ressoam com a realidade cotidiana.
É fascinante a sensibilidade da narrativa, mostrando que o cafajeste Fio Jasmim não tinha outra escolha de acordo com sua perspectiva. O que ele foi ensinado desde cedo é que ser irresponsável, namorador e trair sempre que possível é o que é esperado dele enquanto homem. É como ele reforça esse papel de gênero, e como deve ser.
“Canções para ninar menino grande” permanece relevante por sua abordagem atualizada das questões de gênero, oferecendo profundas reflexões sobre a sociedade contemporânea e as dinâmicas de poder dentro das relações humanas. É uma leitura que desafia e convida à introspecção sobre as próprias vivências e preconceitos.
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