Marina 10/05/2024
Meninas grandes
Todo homem aprende sobre uma água que cessa a sua sede. Encontrando a fonte e desejando que nunca se esgotasse, Fio Jasmim bebeu e lambeu as lágrimas da esposa e se manteve hidratado pelo perdão incondicional que chegava doce em sua língua.
Nós mulheres coamos um café, sentamos no sofá e ouvimos esses contos com interesse. Ou no ônibus de volta pra casa, ou ainda enquanto o almoço está no fogo, ou depois de estendermos as roupas no varal, ou após a última atualização do Excel, ou entre as pausas do questionário pro próximo concurso público. Assim me senti das páginas iniciais às derradeiras, como descreveu Conceição: "queremos ser cúmplices e testemunhas das histórias de amor enquanto vivemos as nossas". Essa é a água que bebemos e lambemos, seja doce ou não, sempre insaciáveis.
Observando essa vasta roda de mulheres durante a leitura, me questionei como seria a roda que compõem os homens ou que espaço de tempo eles negociam pra oferecerem qualquer amostra de vulnerabilidade entre os seus iguais. A última vez que um homem se sentiu acolhido foi debaixo do cheiro inconfundível de mãe e então ele caça outra mulher que lhe oferece um colo eterno?
O medo que Fio Jasmim escondia era a solidão; ele queria ser desejado e deixou de sentir remorso pelo comportamento que se estendeu por longos anos. Ele ainda era um bom homem, um bom marido, um bom pai, pensava ele. Os nossos temores e falsas crenças sempre se cruzam em algum ponto do caminho. Como menina grande que sou, sem qualquer vergonha ou remorso de ser assim, convicta de que serei uma boa mulher, sonho com o dia em que todos beberemos da mesma fonte e não voltaremos a ficar com sede jamais.