Dre21 06/07/2024
Colecionador de Amores
O livro narra a história de Fio Jasmim e seus muitos amores (ou quase amores). Ao longo de sua vida, colecionou mulheres como se coleciona roupas, sapatos e outros objetos. Sendo ajudante de maquinista, tinha a oportunidade de viajar pelo Brasil, o que o levava a se envolver com uma mulher diferente em cada cidade e povoado que visitava.
Em "Canção de Ninar para Menino Grande", a autora aborda a sociedade machista em que vivemos, onde o "verdadeiro homem" é aquele que seduz várias mulheres e esconde seus próprios sentimentos e traumas. Demonstrar tristeza, melancolia e até mesmo chorar são vistos como sentimentos limitados à figura feminina, o que não é verdade. Sentir é humano, e todos nós temos tristeza, alegria, medo, raiva, etc. Todos devem ter a liberdade e o direito de expressar esses sentimentos.
Embora ache impossível alguém ser tão irresistível quanto Fio Jasmim, ao ponto de nenhuma das mulheres que encontra conseguir dizer "não" para ele (a única que o fez era é lésbica), consigo entender o motivo das moças caírem em suas graças, pois apesar de diferentes entre si, todas elas (ou a maioria) desejavam um amor, queriam ser amadas, cuidadas e ao se depararem com um homem charmoso, bonito, educado e bom de lábia, acabavam sedendo.
Na história também é dito que o homem ideal, além de se envolver com várias mulheres, deve escolher uma para se casar, aquela que vai cuidar da casa e dos filhos, sempre esperando o marido retornar de suas várias aventuras, obediente e passifica. Nesse caso, quem fez esse papel foi Pérola Maria, mesmo com as pessoas a alertando das atitudes inconsequentes do noivo, decidiu prosseguir com o casamento. Depois de juntos se deparou com várias provas de traições passadas e presentes, mas ainda sim, permaneceu fiel e leal ao esposo, como se chorar e ter filhos fosse seu alento.
Por fim, ao ler, não pude deixar de comparar a escrita de Conceição Evaristo com a de Carla Madeira. Talvez Madeira tenha se inspirado em Evaristo em termos de estilo. Ambas têm uma escrita fluida e poética. A maior diferença é que Madeira tende a usar palavras mais populares (pelo menos em "Tudo é Rio", o único livro dela que li), enquanto Evaristo utiliza termos mais técnicos e cultos, raramente ouvidos em conversas corriqueiras. Tanto Madeira quanto Evaristo trazem personagens que amam conquistar os outros e fazer sexo, mas Madeira foca na figura feminina com essas características, enquanto Evaristo aborda o homem.