Carla.Parreira 08/02/2024
Canção para ninar menino grande (Conceição Evaristo). O livro retrata a vida de Fio Jasmin, um homem negro e belo que trabalha como assistente de maquinista em um trem. Ele aproveita as paradas ao longo do percurso para explorar as cidades e envolver-se com as mulheres locais. Embora seja casado e pai de muitos filhos, Fio Jasmin parece viver em busca de procriar e encantar mulheres. Isso pode ser atribuído à sua criação e à crença de que esse é o único papel que um homem negro deve desempenhar. Um episódio traumático de sua infância, em que foi impedido de atuar como príncipe em uma peça escolar, deixou uma marca em Fio Jasmin, levando-o a buscar compensação na vida adulta. Ele trata as mulheres como objetos de prazer, punindo-as por qualquer rejeição, mesmo que não tenham culpa alguma. No entanto, uma surpresa o aguarda quando encontra uma mulher lésbica que oferece amizade e conforto, em vez de apenas prazer físico. Melhores trechos: "...Às vezes, a sorte, o destino, a estrela são de um sofrido brilho. Na ceia nupcial em que tudo deveria ser a celebração da vida, o cálice oferecido não veio com o bom vinho; pelas bordas da taça, só o derramamento do fel... Ela não queria somente casar, acreditava mesmo que casaria um dia. A cada manhã, eram renovados os votos de crença na vida que lhe traria o noivo. Fizera do sonho do matrimônio uma certeza. Cria que uma aliança amorosa aconteceria em sua vida. Tinha o vestido de noiva e o enxoval completo. Dentre os seus, já havia escolhido os padrinhos de casamento. Ela falava com tal entusiasmo nas festividades de suas núpcias, que algumas de suas amigas, contaminadas pela certeza da noiva, também reservavam seus trajes novos para a festa que aconteceria no dia. A cidade de Alma das Flores também... Apagar o homem de sua memória não lhe doía tanto, o angustiante era não conseguir construir pelo menos um esboço de pai para as filhas. Ela não queria que as meninas padecessem de uma orfandade paterna, como ela padecera. Uma orfandade desde o vazio de uma imagem que não se podia construir, pois a anterioridade era construída de um rosto não desenhado, falho, pois sofria de uma não concretude. E ironicamente as filhas guardavam uma parecença profunda com o pai... A dor que Jasmim guardava e que nunca comentara com ninguém foi quando não pôde ser o príncipe na escola. Mas tudo havia ficado no passado distante; ao crescer, ele foi construindo seu reino próprio, experimentando modos de viver outras realezas. Dores também não eram sentimentos para homem. E sim das mulheres. Entretanto, parece que elas mesmas sanavam as suas dores, com lágrimas..."