FAtima311 22/07/2023
Uma canção sobre meninos e homens
Nesta obra, Conceição Evaristo nos apresenta Fio Jasmim, uma figura masculina, cuja vida é contada a partir da narrativa que une as histórias de nove mulheres: Pérola Maria, a esposa; Juventina Maria Perpétua, que narra as histórias; Neide Paranhos, a primeira namorada; Angelina Devaneia da Cruz, que se suicida por seu amor não realizado; Antonieta Véritas da Silva, Aurora Correa Liberto, Dolores dos Santos e Dalva Amorato, mulheres belas e fortes que com ele se envolveram; e Eleonora Distinta de Sá, com quem ele constrói uma linda relação de amizade.
Cada capítulo traz a história de uma das mulheres. Fio Jasmim, como um fio condutor, o maquinista de um trem que percorre cidadezinhas do interior, vai entrando na vida dessas mulheres, levando paixão e encantamento, mas também dores e lágrimas, já que nenhuma delas consegue impedir sua partida. Com uma narrativa lírica e poética, característica da escrevivência de Conceição Evaristo, a escolha dos nomes das mulheres, das cidadezinhas e do próprio Fio Jasmim é fruto de uma delicada trama polifônica. No personagem masculino, temos a sensualidade da flor de jasmim e o fio que transpassa e costura o enredo, revelando estereótipos e contradições na complexidade que é falar sobre masculinidade, quando ela é construída sobre a carência e a falta.
O tanto de amor que Fio Jasmim distribuía por cada cidade em que passava, como trem de ferro cortando os trilhos, escondia em seu coração a falta, a sua vontade negada quando criança, de ser o príncipe negro.
E aqui, na minha livre imaginação, Fio também pode ser o filho, no sotaque cantado mineiro, o menino grande que queria ser ninado e embalado no aconchego de uma canção, onde cada uma das mulheres poderia representar uma nota.
Enfim, o livro é tão rico, com camadas tão profundas, que seria impossível pretender uma só interpretação.