nsantos06 21/04/2023
“Queremos ser cúmplices e testemunhas de histórias de amor, enquanto vivemos as nossas.”
A história conta a vida de Fio Jasmim, um homem negro, mulherengo, que na sua meninice foi impedido de ser um príncipe negro por uma professora, e que o lugar fora tomado por um garoto branco.
Ao crescer, Fio Jasmim se espelha no trabalho do Pai, Máximo Jasmim, na ferrovia. Como ajudante de maquinista, ele atravessa várias cidades com mais dois colegas de profissão. Se aventura por diversas cidades desconhecidas até então, e como não podia faltar para um homem mulherengo, Fio se interessa por várias mulheres ao percorrer de sua aventura.
No entanto, um ponto se destaca no relacionamento de Fio para com as mulheres. Além do fato de este já estar embarcado em um relacionamento, prestes a se casar, utiliza-se o corpo de outras mulheres negras como objeto sexual, sendo assim, reduzindo a humanidade delas, tendo em vista que só serviam para o prazer dele. Para além disso, as mulheres as quais Fio se relaciona amorosamente, são deixadas por ele como corpos prontos para parir. Poucas são as que não engravidam.
Durante sua infância e adolescência, o pai, Máximo, ensinou ao filho a performar sua masculinidade e virilidade, ensinando-o a se relacionar com o máximo possível de mulheres “Fio cresceu ouvindo as proezas do pai. Aprendera com ele que ser homem era ter várias mulheres. E o mais certo era escolher, dentre elas, uma mais certa ainda para o casamento.”
Um sintoma de masculinidade tóxica aqui se reflete, perpassando até como se entendia os afetos e emoções que homens negros eram permitidos sentir. Somente a raiva e o ódio, e seu oposto, o amor, o choro, eram negados como sentimentos, cristalizando uma figura de um homem viril, que não se permite ser abatido por nada que seja feminino. “Aprendera, desde cedo, a engolir o choro e deixar de lado qualquer sentimento que parecesse dor ou tristeza. [...] Só as fêmeas podem dar vazão às suas agonias, às suas aflições, das menores às maiores.”
Como fruto dessa masculinidade tóxica, enxergava a felicidade na quantidade de mulheres a qual se relacionava. “A cada encontro, se pensava mais macho e, portanto, mais feliz.”
As mulheres negras partem de lugares diferentes e carregam consigo histórias diferentes, mas que se uniam na falta de esperança e na solidão em relação a relacionamentos amorosos. A masculinidade de Fio recaía completamente nas moças, deixando-as ora esperançosas de sua volta, ora tristes com sua partida, e com um fruto dentro de suas barrigas. Transparecia também como as mulheres lidam ao serem mães solteiras. Como é possível criar a imagem para seu filho(a) de um pai que não foi presente nem na vida da mãe? É possível imaginar esse pai?
Foram necessárias mulheres que não se interessavam no amor de Fio, e nos homens, para que ele pudesse enxergar a mulher para além de ser um objeto meramente sexual. A partir daí, pôde desfrutar de outros prazeres que lhe foram proibidos pelo pai quando jovem, como, por exemplo, o afeto não-sexual. “Fio Jasmim, pela primeira vez na vida, talvez tenha percebido que o mais sagrado de uma mulher pode se encontrar para além de seu corpo”.
De sua colega, Tina, que surge “a canção para ninar menino grande”. Uma coleta de histórias de amor ouvidas por Tina contadas em voz e carta por várias outras mulheres, e transformadas em canção.
Um livro que debate a masculinidade tóxica sem as refletir em uma figura heroica do homem, afetando e contribuindo para a solidão da mulher, especialmente, a mulher negra. Além do que, sem reduzir unicamente como objetos para dar prazer ao homem, e parir suas sementes que jorravam dentro delas.