Canção para ninar menino grande

Canção para ninar menino grande Conceição Evaristo




Resenhas - Canção Para Ninar Menino Grande


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Rafael Mussolini 04/05/2024

Canção para ninar menino grande
"Canção para ninar menino grande" da Conceição Evaristo (Editora Pallas, 2022) é um livro com o poder de transformar as percepções dos leitores em diversas camadas. Partindo da ideia da “escrevivência”, junção das palavras "escrever e vivência", Conceição consegue nos fazer circular por histórias aparentemente banais, mas com uma lupa na mão. Com seu texto certeiro e poético, a escritora visita alegrias e dores de uma maneira singular, criando uma narrativa que parece biográfica e também prosa, para depois trazer elementos que beiram o conto de fadas e que no fundo é um verdadeiro estudo sobre a masculinidade negra e as formas como nossa maneira de relacionar foram afetadas pelo racismo e pelo machismo.

Conceição nos apresenta a um personagem dúbio, denso, interessante e muito sensual. Fio Jasmin é um homem negro, de beleza estonteante e uma virilidade que abala o coração das mulheres. Uma figura que por onde passa, assume a função de ser “um moço extremamente fascinante”. Trabalha como ajudante de dois maquinistas de uma linha férrea, portanto, sua história é contada enquanto segue pelos trilhos de ferro. De cidade em cidade coleciona conquistas amorosas, como uma versão do marinheiro que deixa um amor em cada porto.

Os nomes das cidades fictícias criadas por Conceição Evaristo são fascinantes. Ela brinca com o nome das localidades, que ao mesmo tempo dão dicas sobre os rumos da narrativa que virá a seguir. Passamos por cidades como Vale dos Laranjais, que tem uma narrativa tão sensual que quase sentimos o gosto ácido da laranja na boca. Passamos pela cidade de Alma das Flores, Remanso Velho, Ardência Antiga, Nova Ardência, entre outros nomes geniais.

Inicialmente, conhecemos Fio Jasmin através do impacto de sua passagem pela vida de mulheres dos mais diferentes tipos e dos mais variados contextos. Fato incontestável, em relação a Fio, é sua fama de conquistador e tudo o mais que saberemos sobre ele estará atrelado ao seu atravessamento por essas cidades e essas mulheres.

"Os maquinistas, homens mais velhos, tendo idade inclusive para serem pais do moço, parabenizavam o gosto do rapaz por mulheres. Diziam que o jovem ajudante de maquinista trazia em si algo rijo, inquebrantável como os ferros do trem de ferro. E gargalhavam até se contorcerem com as piadinhas insossas que criavam, cuja base provocadora do riso era sempre o duro ferro dos homens a açoitar as mulheres."

O livro é dividido em capítulos, seguindo a lógica das paradas do trem em cada estação. Cada estação uma mulher, cada estação uma história. Os capítulos iniciam com nomes de mulheres conquistadas por Fio Jasmin, e além de nos apresentar a suas vivências e como se deu o encontro com Jasmin, também nos apresenta às cidades e algumas características interessantes sobre a cultura local e a forma como as mulheres são vistas.

A cada mulher que adentramos a intimidade, nos conectamos um pouco mais com a destreza de Conceição Evaristo ao contar histórias. As personalidades das “mulheres de Jasmin” são muito bem construídas. A autora não estrutura uma frase impunemente. Cada pedacinho do texto se encaixa em uma trama que carrega características fundamentais para a obra. Conceição trabalha muito bem com a simbologia do trem de ferro que passa rasgando cidades, assim como o faz o protagonista, que passa rasgando a vida das mulheres. Fio Jasmin, assim como o trem, é uma presença que chega, descarrega algo e se vai. Para as mulheres que ficam, resta uma paixão avassaladora e um mero vislumbre de um Fio Jasmin que é “esconderijo e mistério dele mesmo”.

Canção para ninar menino grande” trata de uma perspectiva completamente nova sobre as vivências afetivas negras. Provoca em lugares muito íntimos e que foram construídos, em muitos casos, na forja de uma violência social, de gênero e ancorada no racismo. Como foca nos afetos, um dos grandes temas da obra está na exploração da masculinidade negra e as performances que um homem preto precisa assumir para si para ser visto como tal.

"Sua consciência lhe queimava um pouco. Mas havia aprendido que as ardências da consciência, em relação ao sofrimento que ele podia causar a uma mulher, passavam rápido. Era só desviar o pensamento para as ardências do corpo."

Conceição Evaristo escancara a violência de gênero através de um texto que consegue ser bonito e leve. Algo fascinante é que a leveza existe ainda que a autora não faça nenhum tipo de concessão em relação aos malefícios dessa realidade. Ela os insere na narrativa exatamente como eles se apresentam no contexto social, o que é um domínio narrativo extraordinário.

Aos poucos, o enigmático Fio Jasmin, que parece ter como único trauma de vida ter sido impedido de fazer o papel de príncipe na escola por ser negro, conseguirá acessar outras camadas internas que irão escancarar seu vazio existencial que o transformou em um homem “viciado em mulheres”. É quando ele realmente para pra escutar uma mulher, sem o desafio da conquista, que um outro mundo se abrirá.

site: https://rafamussolini.blogspot.com/2023/06/cancao-para-ninar-menino-grande-da.html
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LILHÃO 03/05/2024

"Canção para ninar menino grande" é realmente um conto de vidas. Desde que peguei o livro para ler, achei que ele seria contado somente sobre Fio Jasmim, sua história contada por ele mesmo. Mas eu não podia estar mais enganada.
O livro mostra os relacionamentos e vivências de pessoas negras, trazendo a dor, o amor e até mesmo o ódio de todas as mulheres por quem Fio Jasmim já passou pela vida. No final, tudo o que eu mais queria era abraçar nosso menino grande e, dizer: "você é um príncipe"
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DaniloVeronezzi 02/05/2024

CANÇÃO PARA NINAR MENINO GRANDE
O livro é muito interessante. Tem uma narrativa diferente das que eu tenho o hábito de ler. Me fez refletir sobre as diferenças entre ser homem e ser mulher. A autora explora essas questões de forma sensível e humana. De forma poética. Eu gostei do livro.
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Haury.Silveira 30/04/2024

Felicidade não era para pensar e sim para viver
Primeiro livro de Conceição Evaristo que leio e percebi uma escrita cativante, bonita. Fio Jasmim é um personagem que provoca ódio e amor ao leitor. Um desejo reprimido da infância que reverbera por toda vida de Fio, esse eterno ?menino grande? que tem a moleira aberta e nenhum juízo!
Recheado de críticas sociais, o livro nos faz compassivos por todas as mulheres que passam pela vida de Jasmim, todas simbolizam o quão forte precisa ser uma mulher nesta sociedade. Abandonadas, incompreendidas, não amadas, injustiçadas. Mulheres que foram usadas, vítimas da masculinidade. Amor e dor se entralaçam durante toda a história. Prepare o coração.

?Fio entendeu que, para esvaziar um pouco o vazio que ele trazia de nascença no peito, era preciso bem mais. Era preciso encontros. Quais tinham sido os encontros em sua vida??
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Majú 29/04/2024

Conceição Evaristo sempre - sempre - me deixa extremamente reflexiva sobre suas ponderações de vida a partir de uma ótica individualizada. Com este livro, não foi diferente.
Para além de me acionar uma série de gatilhos emocionais (não necessariamente ruins, mas que me levaram a auto-analise em relação a muitas vivências e relações que eu tive), o livro ainda traz recortes comunitários de conexões entre pessoas racializadas, marginalizadas e que deveriam ter o apoio uma das outras para se manter em uma estrutura nociva.
Quem dera se todo homem pudesse sofrer a rebordose de Fio Jasmin. Quem dera se toda mulher pudesse se entender tão livre quanto Tina.

Quatro estrelas. Conceição me tira o fôlego.
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Karol.Vasco 27/04/2024

Um livro de muitas solidões
Que livro bom, bem escrito, com uma história boa, achei que trás muito da realidade de muitos, procurando preencher um vazio que não é possível preencher o protagonista acaba usando várias pessoas, achei um livro lindo.
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Luiza 26/04/2024

Gostei do livro, tem uma escrita nem tão fácil e nem tão difícil. Conta a história de fio jasmin e de sua tragétoria romântica entre as mulheres, sendo ele um homem namoradeiro, vai tratar de várias críticas sociais sobre como os homens viam e veem as mulheres.
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@pinhanh 25/04/2024

Canção Para No Ninar Meninos Grandes... realmente!
? Este livro é muito importante e real. Assumo que ao olhar de "relance", julgamos ser um livro que irá relatar as vivências de um homem mulherengo com diversas mulheres diferentes, mas se você se permitir enxergar, irá ver que na verdade, se trata da história de um homem que desde criança foi ensinado a não ter, demostrar sentimentos; foi julgado desde cedo como não adequado para fazer o papel de príncipe na escola; vemos um homem que mesmo com suas atitudes erradas no seu atual presente, foi moldado desde cedo ao machismo presente no mundo. Se trata da realidade de muitos homens negros e seus relacionamentos com mulheres negras. Como diz a descrição do livro: "Trata-se de um mosaico afetuoso de experiências negras, um canto amoroso e dolorido. Na figura do personagem Fio Jasmim, Conceição discute com maestria as contradições e complexidades em torno da masculinidade de homens negros e os efeitos nas relações com as mulheres negras."

? Fio Jasmin, é a realidade de muitos homens ao redor do mundo. Homens que foram ensinados a não demonstrar sentimentos, a ter várias mulheres, a fazerem filhos e largarem por aí como se fossem seres insignificantes. Nada justifica as suas decisões do presente, mas também não podemos negar que, muitos de nós, seguimos os concelhos das pessoas que mais admiramos, e foi a caso de Fio Jasmin. Conselhos que, no fim, não eram dos melhores. É lindo poder acompanhar no fim do livro a descoberta, a sensibilidade, as emoções que Jasmin descobriu ser capaz de sentir, e pela descoberta dele, sobre o fato de que ele possui sentimentos e emoções oprimidas dentro de si. É realmente bonito poder ver homens se entregando à sensibilidade, sem medo de ser julgado.

? Também não podemos deixar passar em branco o fato de muitas mulheres que acabam se entregando a homens como Fio. Mulheres, que na maioria das vezes, só gostariam de ser amadas e serem únicas na vida de alguém. Vemos diversos relatos de mulheres diferentes que se envolveram com Fio, e podemos ver, como essas mulheres acabavam no fim, por conta dessa poligamia de Fio Jasmin.

? Esse livro mostra que precisamos educar os homens a respeitarem as mulheres e há não negarem os seus sentimentos. E precisamos ajudar as mulheres para que não se entreguem aos amores vazios e superficiais.
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Laura3411 25/04/2024

Eu achei o livro bem interessante, com uma escrita muuuuuito boa (Conceição Evaristo arrasa) gostei muito do final
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meulaliat 25/04/2024

Mais uma vez Conceição.
Li canção para ninar logo após a leitura de olhos d'água e foi incrível perceber aquilo que é tão único no jeito de escrever da autora. mais um livro que me afetou profundamente e que me deixou emocionada do início ao fim. a mudança de perspectiva que temos ao fim da história foi o momento central pra que eu compreendesse algumas relações para além de uma história em um livro. definitivamente foi um presente esse livro ter chegado até mim.
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Cameater 21/04/2024

Dores não vazam dos olhos dos homens.
Foi minha primeira leitura dela, por curiosidade do que se trataria a obra. Gostei, não vou mentir, mesmo achando um pouco monótona a parte da história de cada mulher assumo que é só falta de cultura de minha parte; já que essas demonstram as diferentes circunstâncias de diferentes mulheres de um modo recheado e profundo em poucas páginas, Conceição foi exemplar em conseguir desenvolver tantas personagens e tantos conceitos de um modo poeticamente explícito.
Fio pode ser o protagonista que demonstra como o machismo e o racismo criam uma sexualização e objetificação não só das mulheres com quem ele se relaciona, como também dele mesmo (enquanto elas tinham histórias, sentimentos e sonhos; o que teria Fio Jasmin para contar além de noites de prazer?) e é algo que até então não tinha visto muitos falarem sobre dessa forma.
Foi uma boa experiência, e com certeza lerei mais títulas da autora futuramente.
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Camila.Vicente 21/04/2024

Muito bom mas dá uma raiva
Primeiro livro que leio da Conceição Evaristo e gostei muito, apesar de passar raiva em vários momentos. A história de Fio Jasmim pode ser reconhecida na história de muitos homens do nosso convívio. O que mais me impressionou foi como é possível falar de desejo, até de paixão sem falar de um pingo de amor. Ou pelo menos não aquele amor romântico e idealizado que esperamos ler. O amor é confuso e muitas vezes duvidoso, enquanto o desejo da carne é bem concreto
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valenntsx 03/04/2024

Canção para Ninar Menino Grande
?(?) Nem sempre é sábio duvidar do que parece ser. Venho aprendendo que é bom, às vezes, crer no que parece ser. Pois o parecer ser, quando ninguém ainda percebe, é o ser.?

Só Conceição Evaristo pra escrever de forma tão bonita e poética sobre um homem tão INSUPORTÁVEL quanto Fio Jasmim, apesar de compreender que o livro não é sobre ele em si.
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carlos 02/04/2024

Canção para ninar menino grande.
?No entanto, a lição de cunho mais severo e doce que Fio Jasmin aprendeu foi com uma mulher. Uma mulher a quem ele nunca cortejou. Com ela, aprendeu que o homem podia, sim, verter em lágrimas suas dores e sua perplexidade diante da vida, diante do mundo.?

Toda conclusão de alguma obra da Conceição eu falo que é a minha favorita sem cessar por que as obras-primas que essa mulher constrói são surreais, esse livro me fez refletir muito sobre uma questão que paira muito em minha vivência, a masculinidade negra e como homens negros são constantemente ensinados a se ver apenas como um objeto sexual. Claro, o Fio Jasmin não é nem de longe o maior prejudicado por todas as más relações contadas no livro mas a obra nos faz refletir justamente como uma vivência é transmitida á outra, causando assim uma grande bola de nova que se torna no fim uma avalanche, a repressão de sentimentos e a falta de comunicação causa coisas inexplicáveis em nossas vidas.
No mais, eu te amo demais Conceição, de verdade.
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