Sidélia 04/04/2024
O desodorante da vovó
Antes de tudo, preciso ressaltar que "Canção para Ninar Menino Grande" não é apenas um livro sobre um menino grande. A capa pode enganar à primeira vista, mas a história vai muito além dessa impressão inicial.
Ao ler o livro, não pude deixar de notar o significado pessoal de certos elementos. Por exemplo, o nome "Alma Flores" me fez lembrar do desodorante da minha avó, o que me levou a imaginar um cenário rico, só que com pessoas negras.
Recordações do livro "Niketche: uma história de poligamia" de Paulina Chiziane vieram à mente, trazendo sensações semelhantes. Ambas as obras exploram a jornada de mulheres resilientes, que se reconstróem diante das adversidades com nobreza e honestidade.
A visão dos homens como seres incompletos, sempre em busca de afirmar uma masculinidade frágil, contrasta com a força e integridade das mulheres retratadas. Parece que, mesmo crescendo, os homens permanecem presos em uma fase de meninice, enquanto as mulheres assumem o papel de verdadeiros pilares de força e afeto. Burlam o previsto para cada na narrativa.
Me identifiquei profundamente com as personagens, lembrando-me de amigas, tias, irmãs e primas. É como se estivéssemos em uma roda de conversa, compartilhando experiências de amor, superação, abandono e sonhos desfeitos.
Por fim, o personagem Fio Jasmim adiciona uma camada adicional de complexidade e familiaridade à narrativa, representando diferentes aspectos da experiência masculina, dentro e fora do livro.
Fio Jasmim é muitos e ao mesmo tempo o mesmo de sempre dentro e fora do livro.