Cris 15/11/2022
A cada livro lido, sei que Zafón fez seu nome!
'O jogo do Anjo' é o segundo livro da série Cemitério dos Livros Esquecidos de Carlos Ruiz Zafón, e igual a todas as outras leituras que fiz do autor, esta também ganhou 5 estrelinhas e um lugar muito, mas muito importante na minha estante.
A história se passa na década de 20 numa Barcelona gótica e um tanto decrépita. O protagonista se chama David Martin e ele é um jovem e talentoso escritor em busca de reconhecimento após vários folhetins lançados através de um pseudônimo. Trabalha em uma editora e por ela é consumido dia após dia, toda essa ânsia por fama e uma lamentável aceitação do público, o fez se esquecer de si mesmo e quando menos percebeu estava gravemente doente tendo pouco tempo de vida pela frente.
Tudo estava indo de mal a pior até receber uma estranha mas tentadora oferta de trabalho por parte de um renomado editor francês chamado Andreas Corelli. Corelli tinha a intenção de publicar um livro no qual a religião fosse reescrita do zero a fim de doutrinar as pessoas e fazer com que esse amplo assunto fosse disseminado para o maior número de pessoas, sendo elas crianças ou adultos. De início, David estranhou a insana oferta, mas, deixou o assombro para trás pois além de prestígio, teria o conforto que tanto almejava. Contudo, o que era para trazer esperança, trouxe uma amaldiçoada sombra sobre o resto de seus dias.
( ...) Ninguém está plenamente consciente da cobiça que se esconde em seu coração até o momento em que ouve o doce tilintar da grana em seu bolso.
Não é nenhum exagero dizer que o Zafón foi um dos melhores romancistas da ficção contemporânea. Infelizmente, o autor faleceu em 2020 deixando milhares de fãs espalhados pelo mundo. Me incluo nessa leva e já estou triste por ter apenas só mais 3 livros a serem lidos dele. Para mim é um tanto difícil dizer o que mais me chama atenção em seus livros, não sei se é sua escrita em si que é deveras eloquente, ou, se é a facilidade que ele tem de construir enredos, cenários e personagens ... talvez deva ser tudo, afinal, Zafón para mim sempre será fantástico. Inesquecível.
A ambientação em 'O jogo do Anjo' é algo surreal e flerta abertamente com o sobrenatural. Além de sermos jogados dentro da história, é impossível ficar inerte em relação a tudo, de fato nos vemos ali e experimentamos tudo aquilo que estamos lendo.
Eu sempre me fiz a pergunta se nenhum diretor de cinema se interessou por adaptar seus romances, e, após uma breve busca no Google tive o conhecimento de que o Zafón recusou veementemente muitas propostas endinheiradas unicamente por já ter recebido um número simbólico de adaptações; para ele, todo livro lido já ganhou uma adaptação dentro da cabeça e coração de seus leitores, sendo assim, não faria sentido algum tirar a ilusão já criada na mente de seus fãs. Lindo, né? ??
A construção do enredo e dos personagens acontece de maneira ritmada e muito assertiva. Naturalmente entendemos e nos deixamos envolver pela aura fantasmagória criada pelo autor. Um dos personagens mais emblemáticos e dono de várias frases de efeito é propriamente o antagonista da trama, Andreas Corelli já é figurinha carimbada em um outro livro de Zafón e agora ganha ainda mais destaque proporcionando momentos de tensão e de muito mistério. David também apenas cresce no gosto dos leitores com o passar do tempo e tem sim um desfecho relevante que fará ponte aos outros dois livros restantes da série.
A história em questão se passa antes de 'A sombra do Vento' embora tenha sido publicada depois. Em uma entrevista o autor relata que não existe uma ordem exata de leitura, disse também que todos os caminhos levariam ao mesmo fim. Eu discordo pois caso não tivesse lido o 1? livro da série, não teria tanto apreço pelos Sempere que, além de muito citados, são extremamente relevantes para o entedo como um todo.
Se eu indico o livro? Gente, eu indico Carlos Ruiz Zafón. Fim!!!
Esse autor fez seu nome e merece nunca ser esquecido. Pode ser que algumas pessoas achem seus livros densos ou complexos demais, porém, suas histórias além de intrinsecamente bem estruturadas, trazem consigo todos os elementos que compõem um belo e imponente romance.
Leiam, leiam e leiam!
(...) Este lugar é um mistério. Um santuário. Todos os livros, todos os volumes que vês à tua frente, têm alma. A alma de quem os escreveu, a alma daqueles que os leram e viveram e sonharam com eles. De cada vez que um livro muda de mãos, de cada vez que alguém desliza o olhar pela suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se mais forte. Neste lugar, os livros de quem já ninguém se lembra, os livros que ficaram perdidos no tempo, vivem para sempre, á espera de chegar às mãos de um novo leitor, de um novo espírito...