Carla.Parreira 11/11/2024
Assassinato no Expresso do Oriente (Agatha Christie). O livro, que começa com o detetive Hercule Poirot na Síria, apresenta seu caráter astuto e metódico, semelhante ao de Sherlock Holmes. O enredo avança quando Poirot, após um começo intrigante, embarca no Expresso do Oriente, onde observa um casal aflito prestes a perder o trem. Enquanto ele viaja, apesar do clima rigoroso e da iminente nevasca, ele se junta a outros passageiros peculiares, incluindo um americano rico que se destaca pela sua energia desconfortável. Durante a viagem, o americano se dirige a Poirot, reconhecendo seu talento como detetive e pedindo ajuda, alegando estar em perigo. Porém, Poirot não aceita a solicitação. Naquela mesma noite, quando o trem é forçado a parar devido à nevasca, ocorre o assassinato do americano. O detetive se sente culpado por não ter ajudado e decide investigar. Um médico presente no vagão confirma que a vítima foi morta com doze facadas, e um copo com resíduo de remédio é encontrado ao lado do corpo. Com apenas doze passageiros além de si e de seu amigo, Poirot começa a coletar depoimentos, revelando detalhes sobre cada um dos presentes. Durante as investigações, ele encontra pistas como um lenço com a letra "H", pedaços de papel queimados e um relógio quebrado que sugere o horário do crime. O papel com o nome Daisy Armstrong revela que o suposto americano não era quem dizia ser, mas sim um gangster famoso, implicado em um crime terrível envolvendo o sequestro e o assassinato de uma filha de milionários. Essa revelação intensifica o mistério, envolvendo Poirot em uma trama de vingança e justiça que se desdobra com complexidade, à medida que ele analisa as conexões entre os passageiros e o crime que acaba de ocorrer. O passado trágico da família Armstrong é revelado, mostrando que a filha de três anos, Daisy, foi sequestrada e morta, resultando na morte da mãe durante um aborto espontâneo e no suicídio do pai. O gangster responsável pelo crime foi condenado, mas rapidamente libertado devido a suas conexões e riqueza. Durante sua investigação, Poirot percebe que os passageiros não são quem dizem ser, e cada um deles tem uma ligação com a família Armstrong, revelando um plano de vingança pela tragédia cometida. Ao adquirir suas identidades verdadeiras, fica claro que todos compartilham uma indignação profunda pela soltura do assassino. Diante da complexidade do caso, Poirot formula duas teorias sobre o assassinato do gangster a bordo do trem: uma sugere que um dos passageiros entrou pela janela do vagão e cometeu o crime, enquanto a outra considera a possibilidade de que todos os doze passageiros tenham esfaqueado o gangster de forma colaborativa. Com o médico corroborando que as facadas tinham diferentes características, Poirot conclui que as provas apontam para um verdadeiro pacto de sangue, onde a moralidade e a busca por justiça se entrelaçam de maneira irônica. A avó de Daisy até se oferece para assumir a culpa, mas Poirot decide que a solução mais adequada é afirmar que um intruso ativou os eventos, garantindo a impunidade dos doze. Ele apresenta sua teoria, não apenas para proteger os passageiros que se uniram em um ato de justiça por conta própria, mas também por compaixão, entendendo a dor que cada um deles carregava. A narrativa termina com um toque de ambiguidade moral, levantando questões sobre o que é certo e errado quando a justiça falha. O desfecho deixa o leitor contemplando o paradoxo de um ato de justiça feito fora dos limites da lei, com a habilidade de Agatha Christie em entrelaçar o entretenimento e reflexões mais profundas sobre a natureza humana. A autora, através de Poirot, confronta o leitor com as nuances da moralidade em um contexto onde os assassinos são também vítimas da cruel realidade que experimentaram ao longo dos anos. A revelação de que doze facadas foram desferidas e que havia doze passageiros no vagão provoca uma reflexão interessante sobre a natureza coletiva do ato. Embora cada um dos passageiros tenha suas razões individuais para participar da vingança, a conexão entre eles e a trágica história da família Armstrong se torna um elo forte que une suas motivações. Essa dinâmica leva os espectadores a compreender como a dor e a injustiça podem radicalizar as ações individuales, criando um assassinato singular com múltiplos responsáveis. A sensação de que a vingança, embora moralmente questionável, surge como um ato de justiça para os passageiros é um ponto debatido que traz uma nova camada à história.