anna 31/12/2021
Um ótimo livro
Queria começar falando que se você torce o nariz em ouvir falar em literatura russa, tenha medo de encarar suas obras: comece por essa!
Que livrinho genial! É um livro fluido e envolvente, repleta de diálogos que facilitam a leitura. Você consegue ler rapidinho, juro!
Sobre a obra em si: Trata-se de um tema recorrente na literatura europeia do século XVI: o adultério feminino.
A mulher pivô do triangulo amoroso já está morta (não é spoiler), e o livro baseia-se em diálogos entre o Eterno Marido e o ex-amante. Desconfio que não exista escritor que consiga descrever melhor a alma e o sentimento humano que Dostoievski, e nesse romance ele o faz com maestria: O amante é um playboy de classe alta, narcisista, neurótico (beirando ao que conhecemos hoje como Episodio Depressivo) sem remorsos, (o equivalente do século XXI ao “rei do camarote” haha), que, como diz Renato Russo, “desvirginava mocinhas inocentes e dizia que era crente mas nem sabia rezar”. Bom, as mocinhas não eram tão inocentes, ele mantinha relações com algumas casadas, como é o caso da falecida Natália, esposa de Pavel (do titulo do livro).
Pavel é um homem submisso, que “nasceu para ser marido”, deixava a esposa falar em seu lugar. E quando ele perde a esposa perde consigo seu sentido de vida: o de ser esposo, e então se afunda em bebidas, prostitutas e negligencia parental com sua filha.
Natalia, a falecida, é citada poucas vezes, mas sua personalidade não deixa de ser bem construída: Dostoievski a coloca como uma mulher que nasceu para trair, casava virgem para que depois pudesse “pular a cerca quantas vezes quiser”. E antes que alguém pense “ah, que anti feminista”, o contrário. Ele colocou a mulher no mesmo patamar que o homem, que pode trair mesmo tendo uma vida boa. A mulher, igualmente, nao precisa sempre ter um motivo estrondoso para tal.
O livro é muito bom, divertido, irônico e com umas pegadas psicanalíticas que, MEU DEUS! A relação de amor x ódio (“ele queria me beijar ou queria me matar? Talvez nem ele soubesse”)
Terei que ler novamente alguns capítulos porque ainda desconfio que um dos personagens tivesse tendencia homoafetiva se escondendo atras de um papel de submissão (ou de ate desconfiar das traições da esposa e sentir prazer com tal).