Andreia Santana 17/10/2011
Thriller policial sobre a loucura
Ilha do Medo tornou-se mais conhecido no Brasil após o lançamento do filme homônimo de Martin Scorcese, no começo do ano. Os fãs da literatura policial de suspense, no entanto, já são leitores antigos da obra, publicada originalmente com o nome Paciente 67. O livro de Dennis Lehane, autor também de Sobre Meninos e Lobos (igualmente adaptado para o cinema, por Clint Eastwood), porém, não é só um thriller policial. Trata-se de um suspense psicológico muito bem construído. O tema central é a loucura em seu desenvolvimento mais dramático, a paranóia.
A história começa quando o detetive Teddy Daniels, do FBI, e seu parceiro Chuck são chamados a um manicômio judiciário para investigar o misterioso desaparecimento de Rachel, mulher que cumpre pena no local após ter assassinado os filhos pequenos durante um surto psicótico. Rachel sumiu do complexo de segurança máxima sem deixar rastros. Detalhe: o manicômio fica no centro de uma ilha de onde é impossível escapar.
Os dois detetives, ao chegarem à ilha, pouco antes de desabar a maior tempestade de todos os tempos naquela região, acabam se deparando com diversas situações ambíguas que os levam a desconfiar que o hospital psiquiátrico realiza experiências científicas ilegais com os criminosos/pacientes. A ilha é lúgubre, os detetives sentem-se desconfortáveis no local e o medo se insinua e só faz crescer daí para frente, com consequências desastrosas.
Por se tratar de uma obra de mistério e suspense, fica impossível adiantar mais alguma coisa da sinopse sem entregar “o ouro ao bandido”. Basta vocês saberem que o autor brinca o tempo todo com o leitor, como numa caçada de gato e rato, onde verdades, mentiras, loucura e sanidade, medo e atos heróicos confrontam-se, flertam e substituem-se numa velocidade delirante.
Na ilha, Teddy Daniels precisa confrontar os fantasmas do seu passado, ao mesmo tempo em que tenta manter a cabeça no lugar e não se deixar envolver pelas paranóias dos pacientes. Mas, nem tudo na vida – e na mente – do detetive parece ser o que é.
Ilha do Medo é um livro que me lembra uma grande casa de espelhos, daquelas de parque, que aparecem nos filmes de terror, onde ao entrar, o expectador precisa encarar-se de diversas formas, sob ângulos que ora o colocam muito bem na fita e ora o deformam de tal maneira que a sensação é de ter-se libertado algum tipo de demônio profundo e obscuro, lá do fundo do insconsciente. Teddy, na ilha, é levado a situações extremas e toma medidas extremas. Mas, tudo pode também não passar de delírio.
Bem costurado, claustrofóbico e envolvente, o livro é dos tais que não conseguimos largar até chegar ao final e desvendar os segredos da ilha-prisão. O desfecho é inesperado e o clímax cresce ao longo das páginas, com eficiência precisa, como convém a um bom livro de mistérios e suspense.
Se por um lado usa os clichês do gênero policial, por outro, transforma os lugares-comuns de forma criativa, numa demonstração de que podemos sim, ouvir a mesma história diversas vezes, desde que ela seja contada de maneiras diferentes e com um envolvimento que nos crie a ilusão de ser algo totalmente novo.