fernandaugusta 13/09/2023O incêndio de Troia - @sabe.aquele.livroÉpico de Marion Zimmer Bradley, em suas mis de 500 páginas de letras miúdas temos a história da guerra de Troia, através da visão de Kassandra, filha do rei Príamo e da rainha Hécuba.
Kassandra é a irmã gêmea de Páris, e, para os troianos, o nascimento de gêmeos por si só já era mau agouro. Além disso, a rainha Hécuba sonhou durante a gestação que dava a luz a um menino que colocava fogo em Troia e incendiava toda a cidade. Assim, quando as crianças nasceram, o rei Príamo permitiu que ela criasse Kassandra, e Páris foi dado para viver com um pastor.
Kassandra desde pequena tinha o dom da Visão, e previu a destruição de Troia em meio às chamas. Decidiu que seria sacerdotisa no templo de Apolo, mas seu dom para a profecia lhe conferiu a fama de louca. Logo foi afastada da cidade, e passou um tempo entre as guerreiras amazonas e depois foi ao distante reino da Cólquida. Ao retornar, viu a volta de Páris para a família em Troia, para logo depois chegar de uma missão entre os gregos com a famosa rainha Helena de Esparta como esposa, o que desencadeou a guerra que acabou destruindo a cidade.
Bom, a Guerra de Troia já foi assunto de muitas narrativas, o cenário geral não muda. A autora aqui mais uma vez foca nas mulheres, principalmente em Kassandra, mas a personagem não se ajuda, sendo por muitas vezes histérica ao anunciar suas visões, o que lhe confere o descrédito de todos. Kassandra é uma personagem muito contraditória, e não me cativou, a não ser nas páginas finais, e quando estava privada de suas visões.
A trama é muito arrastada no início e tem muitos personagens. As extensas narrações das visões, sonhos e conflitos de Kassandra dificultam saber o que a autora quis deixar no plano da realidade e o que entra na conta da mitologia. Aliás, com tanta interferência de tantos deuses diferentes na história, tanto do lado grego quanto do troiano e mais as divagações sobre a Deusa, Mãe Terra e Mãe Serpente, vira tudo uma sopa que deixa a narrativa lenta e confusa, até que se consiga entender quem está atuando de fato.
Diferentemente de suas outras obras, em que temos personagens apaixonantes, não consegui me conectar com muitas peças deste quebra-cabeça. Posso dizer que simpatizei com Pentesileia, rainha das amazonas. Os personagens masculinos em geral são daquele tipo que não se salva nenhum.
Não é uma leitura fácil, nem fluida. Tem cenas bem pesadas e as simpatias e relacionamentos mudam a toda hora. Apesar de estar lendo sobre batalhas, guerra, deuses e heróis, a leitura é bastante monótona, sem muita emoção. Mesmo assim, vale a pena encarar a viagem para a Cólquida com as amazonas e conhecer os centauros, (as viagens de Kassandra são bem interessantes). O terço final do livro melhora bastante, os acontecimentos aceleram e todo o desfecho, por si só, salva a leitura aos 45 do segundo tempo.
Recomendo paciência e coragem para quem for encarar este livro, é muita informação. Para os amantes de mitologia e Antiguidade, é uma visão alternativa bem-vinda da Guerra de Troia.