de Paula 14/03/2023
Uma outra visão sobre o impacto da guerra
Eu gostei dessa leitura por ela ser algo diferente do lugar comum de refugiados e das vítimas verdadeiras do horror da violência de um conflito de dimensões mundiais, trouxe um viés diferente de saber o que aconteceu com os filhos das uniões entre inimigos. E de pensar que isso acontece em todos os conflitos, ainda mais os abusos decorrentes do poder dos soldados ou até mesmo dos navegadores ou outros personagens da história humana. Quando algo acontece por amor, ainda assim deixam as marcas da maldade e do sonho do oprimido se tornar opressor.
É uma história previsível, obviamente desde o início sabemos que a garota está em busca dos pais e quem provavelmente eles devem ser, porém, a história é contada de uma forma agradável, com pontos altos e de clímax espalhadas pelos capítulos, tornando instigante a jornada. Demora muito para acontecer algumas coisas e são contadas de forma rasa, mas, é envolvente no que se propõe.
Gosto da abordagem de saber o que aconteceu na França antes dos Aliados e Charles de Gaulle salvarem Paris dos alemães, não li muitos livros sobre este momento, afinal, por se tratar de um país tão desenvolvido, esquecemos do passado sombrio e quantas vezes a cidade das luzes foi destruída. Mas, o que mais me impressiona é o foco que a autora dá para os filhos que descendem dessas coisas tenebrosas que o ser humano é capaz. Sabemos que tem filho de estupro, mas, as relações humanas acontecem apesar das dificuldades, senão, nem estaríamos aqui, porque reprodução na Idade Média não deve ter sido nada fácil.
O expurgo me lembrou o que aconteceu no final de Jogos Vorazes, quando eles venceram a guerra e queriam criar arenas para os filhos da Capital, perpetuando a maldade que sofreram como se isso fosse trazer algo minimamente bom em retorno. A vingança é um caminho de desgaste que não trazem recompensas tangíveis na realidade.
O romance foi fraco, achei que tudo se resolveu muito rápido para protagonista e sua mãe, porque não tem uma complexidade ou dúvidas sobre o relacionamento, o que poderia dar uma impulsionada neste ponto da história. Talvez um desgaste entre Fred e Valerie deixasse as emoções mais fortes, mas nem isso a autora nos deu. Fiquei frustrada neste ponto.
É uma leitura agradável, boa para fazer em períodos de ressaca literária, mas não tem muita profundidade dos assuntos abordados, nem na narrativa ficcional, nem na história de Paris da década de 1940. Pensando nisso, talvez não seja uma indicação para pessoas com muita crítica sobre o assunto que serve de mote, mas, para fins de entretenimento, tem qualidade.