Nick 20/01/2024
Inteligente e divertido
Ambientado na Rússia do séc. XVIII, a novela nos imerge no contexto militar e burocrático do Império.
Um escrivão está atrasado para digitar a Ordem do Dia, documento militar oficial, e comete erros ao redigir devido à pressa e ao terror que cairia sobre si caso não fosse feita a tempo. Ao invés de transcrever: ?A nomeação para tenentes que tange Stíven, Rybin [...]? ele escreve: ?A nomeação para tenentes Quetange, Stíven, Rybin [...]?.
A partir do erro de digitação do escrivão, surge um nome: Quetange. A partir do nome, uma identidade, a partir da identidade, uma vida. Ele comete, ainda, outro erro. Na declaração de óbito, declara um homem vivo como morto.
A Ordem do Dia era absolutamente incontestável, de forma que quando o tenente Siniukháiev, vivo, escuta seu nome da sessão de óbitos, duvida de sua própria existência.
Quando o alto escalão é alertado sobre os erros, decidem ?considerar como existente o tenente Quetange? e como morto o tenente Siniukháiev.
Quetange é condenado ao açoitamento e ao trabalho forçado na Sibéria por creditarem a ele um feito que irritara o czar. Após sua volta à Rússia, é promovido, se casa e tem uma vida que só acende. Sua característica mais adorada pelo czar é a discrição.
Na obra, Tyniánov ridiculariza o czar Paulo I, o militarismo burocrático, a elite afrancesada, a corte e tudo o que surge no caminho.
A escrita é fluida. Apesar de lermos sobre procedimentos burocráticos, a comicidade das cenas é refrescante, tornando a leitura leve e divertida, com aspecto teatral, além de ter contribuído para o imaginário cultural da região. Como diz o posfácio desta edição:
"A penetração da literatura na vida nacional sempre foi sinal de um êxito genuíno e duradouro. Este êxito foi alcançado pelo conto O tenente Quetange, cuja imagem tornou-se símbolo de uma atitude fria, indiferente e oficialesca em relação à vida."