vivianedesouzasc 18/01/2024
Um mergulho na nossa miséria e a vivência da morte.
?E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia.?
É fascinante como o autor faz com que entremos na história junto ao personagem. Há um convite feito por ele. Toda a travessia que ele faz durante o enredo é duramente compartilhado com o leitor. Logo, toda a vivência do personagem, com a miséria, dor, fome, sede e morte, nós sentimos também.
?Morte e vida severina? nos ensina e vivenciar a morte para desfrutar da vida. É uma leitura silenciosa porque em muitos momentos nos vemos em transe refletindo por cada palavra escrita. É um mergulho na mais pura realidade sofrida.
Algo interessante na leitura é que mesmo sendo um livro escrito em 1954, todos nós vivemos a mesma travessia que Severino, ou melhor, de todos os Severino?s, citados no livro.
A maior associação que fiz na minha leitura, com a dura realidade que vivemos, foi a dor expansiva da pandemia, causada pelo COVID-19, em que a em certo ponto, a morte foi naturalizada e numerada como algo comum. Quando se foi esquecido, em meio a tantos medos, receios, corpos e dores, o que cada pessoa que tinha finalmente sua travessia na vida, não tivesse importância.
João Cabral de Melo Neto, é atual e escreveu uma das histórias mais marcantes, que já li em minha vida.
Obra necessária!