Maria19642 26/03/2024
O engenheiro da palavra
João Cabral de Melo Neto é um dos melhores poetas da literatura brasileira, tendo ganhado destaque entre os modernistas da geração de 45 e, por isso, ganhou a alcunha de o "engenheiro da palavra", pois a manuseava como ninguém.
Um de meus poemas favoritos da vida "A voz do canavial" foi escrito por ele e é perfeito, principalmente pela sua sonoridade, mas não é ele não é a estrela dessa resenha. Conhecido como o auto de natal pernambucano, o poema "Morte e Vida Severina" retrata a imagem do retirante nordestino, seus sonhos, suas subjetividades, seus medos e angústias. É notável, ao longo da leitura, o motivo de ser um dos melhores da língua portuguesa como um todo. J.C.M.N não poupa ninguém e nem utiliza palavras bonitas ou grandes demais para expressar a vida severina, mas a grandeza do que ele escreve supera a simplicidade de sua linguagem.
Muitos já se propuseram a falar do "coitado nordestino" ou do "retirante angustiado", mas poucos lhe deram voz como J.C.M.N deu. Essa voz, creio eu, não pode ser resumida em uma resenha, mas merece uma aula inteira, ou melhor, um clube inteiro dedicado a escutá-la e a entendê-la. Às vezes, na academia, entender é bem mais difícil do que estudar.
De qualquer modo, leitura fantástica, fluente e totalmente necessária. Não leio muito poesia, mas quando leio João Cabral de Melo Neto, sinto que estou o lendo há muito tempo.