Carla.Maciel 17/08/2024
Um dos autos mais bonitos da literatura brasileira
O Severino filho da Maria do finado Zacarias é um personagem muito forte da literatura brasileira, essa obra em si é muito bonita e bastante melancólica todavia termina de um jeito que da esperança. A métrica do poema é de uma qualidade técnica impecável.
" E iguais também porque o sangue que usamos tem pouca tinta" ( p. 46)
" Mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia" (46)
Ao longo do texto o Severino imigrante encontra diversos cadáveres com o nome de Severino ao sair de sua cidade em busca de uma vida melhor, o personagem só encontra morte e ao buscar a morte este se depara com vida, uma vida severina mas incontestavelmente vida.
" Finado Severino quando passares em Jordão e os demônios te atalharem perguntando o que é que levas...
Dize que levas somente coisas de não: fome, sede, privação." (52)
Só morte tem encontrado quem pensava encontrar vida, e o pouco que não foi morte foi de vida Severina (aquela vida que é menos vivida que defendida, e é ainda mais severina para o homem que retira). (53)
" Como aqui a morte é tanta só é possível trabalhar nessas profissões que fazem da morte ofício ou bazar ." (57)
" Só os roçados da morte compensam aqui cultivar, e cultiva-los é fácil simples questão de plantar; não se precisa de limpa," (57)
" Feriado: que nesta terra tão fácil, tão doce e rica, não é preciso trabalhar todas as horas do dia, todos os dias do mês, os meses todos da vida. "
A cova aparece como o único espaço de terra que cabe ao homem pobre.
" É uma cova grande para tua carne pouca, mas a terra dada não se abre a boca. - Viverás, e para sempre na terra que aqui aforas: e terás enfim tua roça. (60)
" Morre gente que nem vivia." P68
" Só que devo ter chegado adiantado de uns dias; o enterro espera na porta: o morto ainda está com vida" (69)
" Severino, retirante, o mar de nossa conversa precisa ser combatido, sempre, de qualquer maneira, porque senão ele alaga e devasta a terra inteira.
Seu José, mestre carpina, e em que nós faz diferença que como frieira se alastre, ou como rio na cheia, se acabamos naufragados num braço de miséria? (71)
" Severino, retirante, sou de Nazaré da Mata, mas tanto lá como aqui jamais me fiaram nada: a vida de cada dia cada dia hei de comprá- la. (72)
" Minha pobreza tal é que não tenho presente melhor: trago papel de jornal para lhe servir de cobertor; cobrindo- se assim de letras vai um dia ser doutor. " (74)
" De sua formosura deixai-me que diga: é tão belo como um sim numa sala negativa. " (78)
" Belo porque é uma porta abrindo-se em mais saídas" (78)
" Belo porque corrompe com sangue novo a anemia " (79)