Marcos Hübner 25/04/2024Até a terra morreu de fome?O épico que dá nome ao livro é leitura obrigatória. Traz diálogos de uma profundidade absurda sobre a fome, a cede, a morte e a vida. Os demais poemas do livro não tiveram o mesmo impacto, alguns tive que dar uma forçada para terminar. ?Uma faca só lâmina? fala do relógio, da faca e da bala, me parece trazer um diálogo com o auto de natal pela morte como fator certo, pela faca, pela bala ou pelo próprio tempo. Outros poemas serviram para ilustrar o espaço físico do estado, de recife e a importância dos seus rios. Enfim, quero deixar alguns pedaços marcados para retomar depois.
Pg66 ?É uma luta contra a terra e sua boca em saliva, seus intestinos de pedra, sua vocação de caliça. Que se dá de dia em dia. Que se dá de homem em homem. Que se dá de seca em seca. Que se dá de morte em morte?
Pg92 ?E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia.?
Pg 108 ?Está cova em que estás com palmos medida, é a conta menor que tiraste em vida. É de bom tamanho, nem largo nem fundo, é a parte que te cabe deste latifúndio. Viverás para sempre na terra que aqui agora e terás enfim tua roça?
Pg 132 ?Severino, retirante, deixe agora que lhe diga: não sei bem a resposta da pergunta que fazia, se não vale mais saltar fora da ponte e da vida, [?] mas não há melhor resposta que o espetáculo da vida, [?] mesmo quando é uma explosão como a de há pouco, franzina; mesmo quando é a explosão de uma vida severina?
FIM.
Ps: o livro não é homogêneo em qualidade e densidade, mas vale absurdamente pelo menos a leitura isolada do poema épico ?Morte e Vida Severina: auto de Natal pernambucano? pg 91 a 133