Luis0501 10/11/2023
Pãozinho de Bunda
Nikki é uma jovem descendente de indianos que luta pelos direitos das mulheres, principalmente para terem a liberdade de fazerem o que quiserem (o que é irônico, já que ela própria não sabe o que quer). Aceita uma vaga para auxiliar viúvas da comunidade onde vive a escreverem um livro, mas nem as aulas, nem os resultados, vão ser como ela imaginou.
Num primeiro momento odiei esse livro. Ele começa apresentando Nikki, como ela é, como pensa, o que faz, etc. E ela é insuportável. Os primeiros capítulos só dizem o quão militante e feminista ela é. Fica repetitiva e enjoativo. Mas assim que as aulas começam, o foco da narrativa sai dela e fica nas histórias escritas pelas viúvas, que são infinitamente mais interessantes do que a protagonista. Mas Nikki não é de todo ruim. Ela vai amadurecendo e vendo que dar liberdade para mulheres que foram submissas aos homens por toda a vida não é algo que possa ser feito agitando placas em manifestos na rua. É um trabalho lento, que necessita de tato e paciência e que não pode ser feito de forma radical.
Sobre a trans no geral, eu gostei. Mesmo que Nikki seja a protagonista, o foco não fica nela, mas sim nas histórias contadas pelas mulheres e o quanto delas mesmas aparece naqueles contos. Mas preciso criticar a forma como a história se desenrola. Várias subtramas são apresentadas e desenvolvidas (algumas simultaneamente a outras, algumas de forma independente), mas elas são todas mau resolvidas. Parece que a finalização desses pequenos conflitos é feita sempre de forma superficial e corrida, como se tivessem sido resumidos pra deixar o livro mais fino, como um cliente de bar racista que aparece várias vezes, depois é mandado embora e fica por isso, o casamento da irmã da protagonista, que nunca é relevante, mas sempre é lembrado, uma espécie de milícia de homens super conservadores que sempre são mencionados, mas nunca fazem algo (são basicamente paisagem).
Esses detalhes podem talvez incomodar um leitor mais crítico (chato) como eu, mas não são nem de longe o suficiente pra estragar o livro. É uma leitura bastante interessante, que me fez refletir sobre feminismo, direitos das mulheres e religião sob um ângulo que eu nunca havia imaginado.