chrissie 04/11/2024
Meu preferido
Como vou começar minhas resenhas do zero, preciso falar do meu preferido.
O Morro dos Ventos Uivantes é pra mim como uma cicatriz de uma brincadeira da infância que gerou um acidente que mais tarde virou uma lembrança. Doloroso, mas gostoso.
Eu encontrei esse livro em uma versão de capa vermelha com escritas prateadas no meio de outros livros da casa onde minha avó trabalhava, a dona, uma senhora professora de letras, tinha essa estante que eu adorava olhar toda vez sem tocar. Tinha nove anos quando conheci Catherine e Heathcliff, e dez quando tomei coragem de folhear esse romance.
O amor é trágico. Eu queria saber descrever a sensação da leitura através dos anos, mas só posso dizer que eu mudei infinitas vezes toda vez que releio.
Comecei sentindo pena de Heathcliff. Sempre estive no lugar dele. Sempre o entreguei todo meu amor e piedade, eu sabia o que ele sentia. A pouco tempo atrás, eu me tornei mais Catherine que Heathcliff. Eu também a entendo.
É amedrontador o fim de um amor que não acaba, ele perdura, como fantasmas.
Esse romance é sobre fantasmas, duas almas que se pertenceram e se separaram ainda existindo uma na outra e mesmo depois da vida, se encontraram.
Todo o resto contido no meio, é confete. Mas eu sou apaixonada por cada descrição da mansão, o morro é minha casa, o campo de pedras e as árvores que uivam, eu sinto o cheiro de tudo. Os rostos de todos eles. Hareton, meu protegido, Nelly, Edgar. É como fazer parte, me sinto pertencente. Quando se lê tantas vezes o mesmo livro, além de, obviamente, decorar falas e passagens, você percebe frases que não seriam importantes ou impactantes, se não tivesse lido pela trigésima vez.
Eu sou Heathcliff. Sim, é tão conhecida.
Mas e esta? ?Todos os pecadores seriam infelizes no céu.?
Eu facilmente recitaria a maldição que Heathcliff rogou ao vento no leito de Catherine, eu facilmente diria as mesmas palavras cruéis e impregnadas de dor e amor, mas também não viveria sem a minha alma.
?Posso perdoar minha assassina, mas a sua, como poderia??
O amor corrompe. Se torna vil. E essa é a verdade tão bem escrita no maior romance de todos os tempos.
Morro dos Ventos Uivantes é uma obra que compõe outras e outras e se repete mas nunca deixa de ser o que é. Única. Nenhum autor, ninguém pode transcrever tanto.
Um dia, romantizei uma história muito parecida, a minha, até porque, dizem que leitores costumam fazer isso mesmo, ainda tenho pra mim meu próprio Heathcliff, pra sempre. É óbvio o fim.
Este é mais um suspiro sobre o amor que tenho por esse livro, não se apegue. Mas insisto que leia, repetidas vezes se necessário, para entender o que estou dizendo.