Resenhas - Le Consentement

Mari 24/11/2020

O que estão esperando para publicar esse livro no Brasil???
Vanessa Springora escreve a história de sua vida. Aí você pergunta: "Quem é essa Vanessa Springora e por que alguém leria sua autobiografia?". Simples, porque, quando ela era adolescente, ela foi seduzida por um grande escritor francês de uns 40/50 anos, Gabriel Matzneff. Ela não conta só como ela acabou tendo um """relacionamento""" com um homem mais velho que seu pai, mas também os fatores que acabaram favorecendo essa situação: o abandono do pai, a insegurança da mãe em criar a filha após esse abandono e a sociedade francesa como um todo. O último é sem dúvidas o mais revoltante de todos, pois o que Vanessa descreve é uma sociedade que literalmente passa pano para seus escritores e intelectuais, eles podem fazer o que quiserem, inclusive descumprir as leis. Repetidas vezes, Vanessa é alertada de que o homem é pedófilo (inclusive ele publicou um manifesto a favor da pedofilia, que foi apoiado por quase toda a classe intelectual, com exceção de Marguerite Duras e poucos outros), mas nada é feito de fato para impedir que esse predador pare de colecionar presas, como se ela fosse a única responsável por estar naquela situação e não fosse responsabilidade da sociedade, que deveria protegê-la, já que ela era menor de idade. Entretanto, quando ela descobre que não é a única, que ele coleciona outras vítimas, tanto meninas quanto meninos, o feitiço se quebra e ela finalmente percebe que aquele homem não é um príncipe encantado, mas uma fera, um predador.
Ela relata também como sua vida ficou depois desse """relacionamento""" e o que G. continuou fazendo para ainda ter controle sobre ela. Ele usou seu nome, suas fotos e suas cartas em livros e publicou sem mais nem menos e não sofreu nenhum ataque, nenhuma indignação. Ele roubou sua juventude e sua história (a qual ele distorceu completamente a seu favor) e agora, Vanessa se vinga, tomando sua história de volta.
Ler seu relato sobre esse abuso dói o coração, mas saber que ela teve sua vingança aquece ele um pouquinho.

Duchesse 27/05/2020

Uma escrita corajosa
"Je pense encore qu'il n'y a de violence que physique. Et G. manie le verbe comme on manie l'épée. D'une simple formule, il peut me donner l'estocade et m'achever. Impossible de livrer un combat à armes égales."

"Eu ainda acreditava que só existia violência física. E G. manuseia o verbo como se manuseia uma espada. Usando uma fórmula simples, ele pode me dar uma estocada e acabar comigo. Impossível travar um combate usando armas iguais."

Adoraria traduzir este livro para o português para que a história de Vanessa alcance um público mais vasto.