Cris 13/08/2020
Ache tudo, menos que este livro narra uma história de amor...
Tudo começou quando o erudito e para todos os efeitos Humbert Humbert tinha 13 anos de idade. Ele se apaixonou por Annabel e com ela pôde experimentar as nuances do primeiro amor, porém, sua história foi interrompida bruscamente devido a morte de Annabel, a jovem garota o deixou e nem o tempo e muito menos as internações a diversos sanatórios ao longo dos anos pôs fim a esse amor. Contudo, agora adulto aquele inocente sentimento juvenil deu lugar a uma obsessão tornando Humbert um assumido e dissimulado pedófilo...
"Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta: a ponta da língua toca em três pontos consecutivos do palato para encostar, no três, nos dentes."
Dolores Haze, uma garota de 12 anos, é a Lo-li-ta de Humbert; é com ele e através dele que sabemos de tudo, do início ao fim. Pararei por aqui e deixarei você leitor um tanto curioso acerca do enredo a partir de agora. Lembre-se, você está num júri e tem total liberdade de assimilar, analisar, julgar e sentenciar. Seja ludibriado, enganado, ou, minimamente afetado por tudo que Humbert tem a dizer.
"O que me põe louco é a natureza dupla desta ninfeta - de todas as ninfetas, quiçá; esta mistura, na minha Lolita, de uma infantilidade terna e sonhadora com uma espécie de horripilante ordinarice, que provém das enfadonhas modelos fotográficas da publicidade e das revistas, com os seus narizinhos travessos..."
Antes de mais nada: 'Lolita' de Vladimir Nabokov é um livro estruturalmente perfeito! Assim que finalizei a leitura só conseguia enaltecer a escrita do autor. Claramente ouve uma renúncia de alma, ele se desnudou a fim de entregar aos seus leitores uma obra-prima.
Trazer à tona um assunto tão repulsivo como a pedofilia e mesmo assim manter o leitor envolvido na história não deve ser algo tão fácil de fazer, de escrever. E manter a atenção desse mesmo leitor quando existe um único narrador e, diga-se de passagem, de caráter duvidoso é ainda mais difícil, sendo assim, meus parabéns!
Embora tenha sido envolvida pelo universo de Nabokov, preciso dizer que tive alguns problemas no decorrer da narrativa, por vezes achava tudo muito parado, cansativo e demasiadamente enrolado. Minha vontade em MUITAS cenas era de entrar no livro e simplesmente encurtar as coisas, queria de todo modo gritar aos quatro cantos para o astuto do Humbert ir pros finalmentes, entende? Mas creio que tudo ali exposto foi minuciosamente proposital, o réu me queria testar, cansar a minha paciência ... quem sabe assim bem cansada eu possa abrandar minha decisão/punição... quem sabe! Enfim, Nabokov me testou, cansou e acima de tudo me surpreendeu positivamente.
'Lolita' é um livro para se debater, dentro dele há diversas discussões para se fazer, tanto no âmbito pessoal ou estudantil. E claro, romantizar qualquer ação ali narrada está fora de cogitação, esta NÃO é uma história de amor, e sim, a história de um pedófilo. Ponto final.
"Esta, pois, é minha história. Acabo de relê-la. Tem pedaços de medula ainda presos a seus ossos, e sangue, e belas e reluzentes moscas verdes."