Queria Estar Lendo 20/11/2020
Resenha: The Invisible Life of Addie LaRue
Mais um livro que me coloca num beco sem saída, porque eu simplesmente não sei como explicar em palavras o que foi a leitura de The Invisible Life of Addie LaRue. É, definitivamente, o trabalho da vida da V.E. Schwab e nota-se desde a primeira até a última linha.
Na história, estamos na França durante os anos 1700, em uma pequena vila no meio do nada. Adeline LaRue confronta o finito em uma crise de pânico, forçada a se casar jovem, e foge para a floresta a fim de oferecer qualquer coisa em troca de liberdade. Só que, quando ela pede para um deus, é a escuridão que responde, e eles selam um acordo: Addie dá sua alma em troca da imortalidade.
O preço? Ninguém além da escuridão vai se lembrar dela. Addie é imortal, mas seu rosto, seu nome, sua história - tudo isso se apaga assim que a pessoa que a conhece vira de costas para ela. O livro transita, então, entre os primeiros anos de imortalidade e seu presente, trezentos anos depois, em Nova York - com uma Addie mais madura e ciente de sua maldição.
É em meio a esse marasmo que ela conhece Henry e, para seu completo choque, percebe que o rapaz se lembra dela. Trezentos anos depois, Addie deixou de ser invisível para alguém.
"Livros, ela descobriu, são uma maneira de viver milhares de vidas - ou de encontrar forças para aguentar uma vida muito longa."
Eu... Nem sei por onde começar? The Invisible Life of Addie LaRue me atraiu desde que a Schwab anunciou que estava finalizando o arquivo; ela demorou dez anos para escrever esse livro, e dá para perceber isso em cada frase, palavra e cena. É um trabalho impecável - mas não sem falhas - e emocionante e melancólico do começo ao fim.
ESSE LIVRO TEM UMA DAS NARRATIVAS MAIS BONITAS QUE JÁ LI NA VIDA! É uma poesia tão triste e solitária e desesperançosa, mas cheia de amor pelo mundo e pela infinidade de coisas que surgem no caminho da Addie com o passar dos anos e com seu amadurecimento a respeito da maldição que carrega.
Sim, ela é esquecível - mas pode deixar seu legado através da arte, da literatura, da música. Sim, quem se apaixona por ela esquece esse sentimento - mas Addie guarda consigo as memórias e os momentos dos quais jamais vai se esquecer.
"Como você anda até o fim do mundo?
Um passo de cada vez."
E ao mesmo tempo em que isso é bonito, é tão, tão triste. Com exceção de Luc - o deus da escuridão que tomou sua alma - Addie está sempre sozinha. E os primeiros anos de sua solidão são desesperadores porque ela não tem mais uma família, amigos, não tem mais um espaço em seu antigo lar; ela foi completamente apagada do mundo, mas precisa sobreviver nele.
Eu amei como a autora construiu seus rompantes de absoluto terror e desamparo no passado para, com a quebra dos capítulos, mostrar a figura amadurecida e consciente e concisa que é Addie no presente; em Nova York, ela sabe o que fazer e quando fazer. Ela sabe quando virar as costas - até que, ao virar as costas para Henry em uma livraria, ele não se esquece dela.
E todo o seu mundo vira de ponta cabeça, porque existe alguém, em trezentos anos, com que ela pode existir. Ser. Alguém com quem Addie pode dividir sua história, seu passado e presente, sua maldição.
"Sete sardas. Uma para cada amor que ela teve."
Eu não quero falar muito do Henry porque a graça do personagem está justamente no mistério. Quem é ele? Por que ele se lembra da Addie? Por que ele carrega uma aura tão triste e soturna? As respostas chegam com o tempo, construindo tensão e suspense, e são arrasadoras. E importantes para o desenvolvimento da trama, principalmente para o seu final.
Esse é um livro total e completamente dedicado a Addie LaRue. À sua memória, à sua existência, mesmo que completamente apagada do resto da história; ao que ela viveu e confrontou e temeu. Aos seus piores e melhores momentos e ao caminho que trilhou porque seguiu seu desejo. Egoísta e imaturo, sim, mas que ganhou tons mais conscientes com o tempo. Um desejo doloroso e impetuoso de viver para sempre - distorcido por uma escuridão debochada que resolveu apagá-la dessa eternidade, mas que não conseguiu apagar sua marca no para sempre.
"O que é uma pessoa, se não as marcas que ela deixa?"
Luc, aliás, tem grande destaque da metade do livro para sempre - e eu já estou preparada para revirar os olhos com comentários de que ele e Addie se apaixonaram e nasceram um para o outro e ela é a luz para a escuridão dele e toda essa baboseira sem sentido (mesma coisa que eu vivo quando escuto alguém dizendo que gosta de Darkling e Alina juntos).
Personagens com o Luc e o Darkling manipulam, abusam (física e psicologicamente) e querem destruir a personagem até não sobrar nada além de uma sombra dela mesma.
A ideia do Luc na história, pelo menos para mim, é o peso de um relacionamento abusivo sem fim. Ele é aterrorizante em alguns momentos e doce em outros, é tentador, sedutor, é belo e apaixonante, e então é furioso e perigoso; ele é um peso determinado a quebrar Addie para arrastá-la até a escuridão eterna, e ela se recusa a quebrar. Ela é forte, ela é teimosa e é incrível por isso. Ela sabe o quanto ele é nocivo, mas também sabe que não tem como se livrar dele a seus termos.
"Adeline LaRue não pode ser uma estranha aqui, para essas pessoas que ela sempre conheceu. Dói demais assistir enquanto se esquecem dela."
A jornada de Addie LaRue fala, principalmente, sobre legado. Sobre a marca que você deixa no mundo. Para citar Hamilton, "o que é um legado? É plantar sementes em um jardim que você nunca vai ver florescer?"; eu me lembrei muito desse trecho enquanto lia, enquanto via Addie lutando contra a maldição para sussurrar inspirações em músicas e pinturas e esculturas, para deixar pequenos lembretes de que esteve ali. Viveu ali. Será lembrada ali.
Quanto a mim, eu só posso dizer que todo esse livro vai ficar guardado no meu coração para todo o sempre. A história de uma garota que implorou por infinidade para a escuridão e, em meio a terrores e felicidades, trilhou sua história através de uma maldição.
Lembrando que esse livro vai ser lançado aqui no Brasil em 2021 pela Editora Galera Record!
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