marcooscaioo 17/07/2024
A luta por uma identidade brasileira
A luta por uma identidade brasileira, nesse primeiro romance de José de Alencar que adentro a leitura, fiquei surpreso pelo apuro de sua escrita. O romance histórico, retrata essas primeiras tentativas de ver o indígena brasileiro de modo positivo, integrando-o na chamada ?civilização? cristã. O querido protagonista, o índio Peri, devoto guerreiro que luta sobre-humanamente pela angelical Cecília (Ceci), filha do personagem histórico D. Antônio de Mariz, respeitado colono português que desbravou o território nacional.
O apinhado estilo descritivo do autor, nos ambienta com uma série de sensações que vão da mata virgem de um Brasil do século XVI à construção de personagens dicotômicos marcados pela moral cristã. O diabólico Italiano, é a figura de maior destaque nesse uso. Além da castida austera da família Mariz. Em meio a toda castidade, existe um quê de erótico nos sentimentos das personagens, um interdito, que se reflete na pomposa admiração ou repulsa dos mesmos.
Reflito sobre a publicação de Alencar num Brasil de 1957, marcado profundamente pelas hierarquias entre as raças (que sobrevivem amargamente em nossa contemporaneidade). Penso que Alencar foi inovador ao buscar incorporar a figura do índio na formação da identidade brasileira, mesmo que sua retratação dos Aimorés seja extremamente problemática, caricatural (como Peri, também é, muitas vezes).
Para terminar, ler o autor cearense foi redescobrir uma literatura que está em qualquer livro didático, que na maior parte do tempo acabamos não dando importância. Literatura velha, linguagem arrastada. Pelo contrário, foi uma baita experiência de maravilhamento, o prazer de ler toda destreza do romance indianista.