Márcia 07/01/2011O sonho com “anjos caídos” estava bom demais para ser verdade
A fábrica de livros – depois de Crepúsculo – não para mais. Fallen chega às livrarias do mundo com o mesmo enredo visto antes tantas vezes. Numa tentativa de deixar o clichê já formado de vampiros para trás – o que já resultou em um novo gênero de livros -, as editoras começam a explorar outros seres especiais – e dessa vez, digamos, “divinos”.
O molde que parece já ter sido formado com os vampiros segue produzindo mais histórias com os “anjos caídos”. Fugir dos clichês pre-formados não deve ser fácil ao escrever um livro com esse tema – o romance entre humanos e seres sobrenaturais - mas é necessário para que a trama tenha algum mérito próprio.
Fallen foi o segundo livro com o tema “anjos caídos” que li e, sendo assim, minha expectativa era grande já que o primeiro foi nada menos que “Hush Hush”, que consegue trazer esse enredo tão batido de uma forma nova, empolgante e – por que não? – original. A Becca Fitzpatrick conseguiu fazer de uma variação inegável do molde de “Crepúsculo” um livro agradável, divertido e dinâmico.
Lauren Kate não conseguiu.
Fallen não tem ritmo, não tem “luz própria”. A personagem principal – Luce – é tão abatida e enjoada quanto as outras desse tipo de gênero. Apaixonada até a alma por um “garoto misterioso” sem qualquer motivo ou lógica aparente, larga mão de qualquer personalidade própria para que possa entender esse amor. Nada é mais importante que perseguir e conhecer Daniel. Esse amor jogado na história de qualquer maneira, não se sabe de onde ou por quê, cansa. Ora, você não ama alguém e entrega sua vida na primeira semana de aula só por que os olhos claros do cara brilham quando te observam.
Luce, além disso, é irritantemente estereotipada. Uma tentativa mal sucedida de uma personalidade gótica e reservada resulta em capítulos e capítulos de autopiedade. Uma mistura indigesta de Bella Swan e Ever Bloom.
Daniel, o mocinho em questão, é tão estereotipado quanto. Aqui não há nenhuma tentativa, mínima que seja, de originalidade. Pode até ser que no início a autora tivesse a intenção de confundir o leitor com as atitudes infantis do personagem, mas a mim conseguiu apenas irritar. O personagem muda de atitude drasticamente de uma hora para outra, sem motivo ou razão lógica, de idiota infantil arrogante para anjo apaixonado, um pobre coitado amaldiçoado que sonha apenas em se reunir com sua amada novamente.
Dá até enjoo.
Daniel é tão “bonzinho” que o imaginei quase um padre.
Para mérito da autora, personagens bons o livro tem. Como a Araine e a Penn. No entanto o final é tão incrivelmente absurdo que o bom das personalidades das personagens é completamente estragado. Apesar de nada surpreendente, revelações feitas sobre alguns desses personagens me deixaram perplexa: nunca achei que uma autora teria coragem de seguir tantos clichês.
O único grande pico de emoção do livro rendeu-lhe essas 3 estrelas e, assim mesmo, suadas e muito refletidas.
O livro termina com um gancho óbvio (só para variar) para o próximo volume da série – o que eu acho de muito mau gosto em qualquer história, como se o autor não fosse capaz de concluir um volume e continuar a história de outro ponto num próximo – cheio de
interrogações, perguntas sem respostas e mistérios não revelados.
Fallen foi uma grande decepção – assim como Os Imortais e algumas outras séries –, mas acho que, para quem gosta desse “novo gênero” com a mesma forma, essas frustrações serão constantes e o que nos resta é continuar caçando os títulos que lidam bem com as barreiras impostas pelos clichês.