Ludmilla Silva 03/05/2021"Not everyone who hears the call to adventure wants to answer it"Into the Dark é o terceiro livro da iniciativa multimídia “The High Republic” e assim como os outros dois anteriores – “Light of the Jedi” e “A Test of Courage” – também se passa durante o Grande Desastre. O livro reúne os Jedi Reath Silas, Dez Rydan, Orla Jareni e Cohmac Vitus e os participantes da “Guilda Byne” Affie Hollow, Leox Gyasi e Geode, que estão indo em direção a Fronteira, ao “Farol Starlight” quando o Grande Desastre ocorre e eles se veem presos no meio do espaço. Felizmente – ou infelizmente dependendo da perspectiva – eles conseguem se abrigar na Estação Amaxine, uma Estação abandonada e peculiar que se encontra ali no meio do espaço, e é justamente nessa Estação que tudo começa a piorar.
Um ponto positivo para mim, dentro de The High Republic, que é característico dos livros anteriores, mas também desse livro é a narrativa contada pelo ponto de vista de vários personagens. O interessante dessa nova iniciativa é que temos uma diversidade muito grande de personagens, se você não se identifica com um há grande possibilidade de se identificar com outro na mesma história e esse ponto de vista aprofundado individual é algo que me agrada bastante e que me faz conectar ainda mais com os personagens e com a história em si.
Um contraponto interessante presente aqui nos personagens são os próprios Jedi. De um lado temos Reath (que eu considero o protagonista) e Dez que são completamente opostos um ao outro, no entanto, ainda se conectam por terem a mesma Mestre Jedi – Jora Malli. Reath é um jedi bastante cauteloso, que preza muito o conhecimento e os estudos acima da ação e da aventura, ele tem um processo de aceitação lento, por querer priorizar seus estudos em Coruscant ao invés da ação na Fronteira. Já Dez é um viciado por ação e aventura, não é muito cauteloso e sempre vai atrás do que for proporcionar para ele mais adrenalina. Contudo, apesar dessas diferenças claras de personalidade os dois ainda são muito ligados a própria Ordem Jedi, a Força e as regras como um todo.
Já Orla e Cohmac são cavaleiros e mestres, respectivamente, e eles acabam demonstrando que não são aqueles Jedi totalmente ligados a Ordem Jedi e aos seus principais preceitos e regras. Pelo contrário, ao longo da história – principalmente por conta dos flashbacks dos dois como padawans – percebe-se que ambos se encontram muito desmotivados com a Ordem Jedi em si e que não concordam muito com os ideais ali estabelecidos. E isso já é algo demonstrado logo no começo com Cohmac não concordando com a forma como a Ordem lida com a morte e Orla sendo uma Wayseeker, isto é, uma Jedi que opera independentemente do Conselho Jedi e de seus ditames. Então é interessante ver esse contraste e essa dinâmica entre os dois grupos de Jedi e a forma como elas acabam se convergindo bastante no final.
De modo geral é muito interessante ver as perspectivas dos Jedi sobre a Ordem e aquele momento de ouro da República, porque para mim – e para muitos que já leram The High Republic – esse é o início do fim da Ordem Jedi. Nas sequels, nós já percebemos como a Ordem Jedi já está corrompida e errada em inúmeros pontos. Aqui em The High Republic é o apogeu dos Jedi, mas isso não quer dizer que a Ordem está certa em tudo que faz, nos primeiros livros já é possível perceber o descontentamento de muitos Jedi com a Ordem. E eu estou muito ansiosa para as fases finais de The High Republic, pois acredito que eles vão focar muito nisso e nas consequências para os Jedi, teriam mais Wayseekers? Deserções? Ressurgimento dos Sith? É uma era totalmente superior para os Jedi, mas ao mesmo tempo nem tudo é perfeito, então gosto de ver bastante os dois lados da moeda quando se trata da Ordem.
Para finalizar essa questão dos Jedi, eu sou apaixonada pelos quatro Jedi presentes aqui. Reath me lembra um pouco o Obi-Wan por ser cauteloso, metódico, racional e bastante determinado. Gosto muito do crescimento que ele teve ao longo do livro: a perda da sua mestra (no sentido das lições aprendidas e deixadas por ela), a quebra de regras Jedi e a experiência na Estação Amaxine fez muito bem a ele, pois ele conseguiu mesclar seus dois desejos: o de contar as histórias e as de vivencia-las em primeira mão, fiquei muito feliz, inclusive por ele escolher Cohmac como seu mestre no final. Eu tinha um pouco de preconceito com Dez no começo, mas fiquei feliz que quebrei esse paradigma, pois Dez é um personagem extremamente empático, honesto e atencioso, a ligação dele com Reath é linda de se ver, e apesar do que aconteceu com ele – em relação aos Drengir – eu acredito que ele lidou muito bem com a situação, e achei incrível ele querer fortalecer e se conectar ainda mais com a Força. O fato dele ir em direção ao “Barash Vow” é muito interessante e espero que tenhamos histórias que abordem esse futuro do Dez.
A Orla de forma geral me lembra a Asajj Ventress do bem – na aparência no caso – eu a acho incrível, não só sua espécie como também o fato dela carregar dois sabres de luz e ser uma wayseeker. Achei uma gracinha ela estar o livro toda animada para comprar uma nave e viver suas aventuras, é um aspecto bem diferente dos Jedi que nunca foi mostrado e combinou super bem com ela. Cohmac por ser um folclorista também se mostra um Jedi bastante distinto, ele é um personagem mais solene e mais sério, e achei interessante termos adentrado nas dores e reflexões dele, principalmente referente a perda e a Ordem Jedi. Fiquei animada quando ele aceitou o Reath como padawan no final, pois penso que eles podem se ajudar bastante, talvez o Reath até impeça o Cohmac de tomar alguma decisão drástica no que se refere a Ordem.
Em relação aos tripulantes da “Vessel”, eu adoro todos. Geode é uma figura extremamente peculiar que me intrigou o livro inteiro, mas que, ao mesmo tempo me deixou super animada e me fez soltar várias risadas. Para muitos ele é apenas uma PEDRA, mas, na verdade ele é uma espécie de ser vivo e eu achei interessante diversificar isso e não trazer apenas espécies humanoides para a saga. Leox Gyasi é o que a autora descreve como uma versão mais sexy e rebelde do Matthew McConaughey, e sim faz muito sentido. O Leox é um personagem que tem um charme incomparável, mas além de tudo ele tem um coração gigante, é bondoso e se importa bastante com sua “irmãzinha” mais jovem, Affie. Só queria dizer que amei demais o fato de o Leox ser assexual!!!!! Representatividade em star wars, principalmente nos filmes, é algo complicado e algo que ainda está em falta, então eu fico feliz quando tem mais representatividade na saga.
Em Light of the Jedi tivemos o casal de maridos San Tekka, agora o Leox assexual, e temos também personagens de várias etnias e espécies aqui, é algo que vejo que está crescendo em star wars, e é necessário, precisamos disso, precisamos que as pessoas se vejam nos personagens, e isso me deixa muito feliz. Penso que é um ponto que The High Republic pode estar pensando em se aprofundar e espero que tenhamos maiores e melhores representatividades não só nas próximas fases de The High Republic como também na saga como um todo. Eu adoro a Affie, ela é divertida, determinada e apaixonada por voar. Ela é uma personagem extremamente corajosa e que preza sempre pelo que é certo e o que é justo, o fato dela ter ido contra a mãe adotiva para levar justiça para os membros da Guilda foi incrível e que diz bastante sobre sua personalidade.
A relação dos três entre si, principalmente com a nave - a “Vessel” - é linda de se ver, é realmente uma família, e eu amo a relação de irmã e irmão protetor que o Leox e Affie tem. Outro ponto muito bem acertado em The High Republic são a dos personagens não-Jedi que são impecáveis. Nos últimos livros tivemos muitos personagens interessantes também e eu estou na expectativa de que até o fim de The High Republic teremos uma história focando apenas nesses personagens e não nos Jedi em si. Um ponto bem legal neste livro é que a Affie questiona o quanto os Jedi se acham superiores e se acham as únicas fontes de conhecimento da galáxia, o que é obviamente falso, eles têm muito a aprender com os verdadeiros cidadãos, e é algo que o Reath percebe durante o livro e que fica bastante claro no final da narrativa: os Jedi são incríveis, mas não são os únicos, e eles não conseguiriam fazer tudo sozinhos, como sair vivos aqui no livro da Estação Amaxine.
De modo geral a trama é bem interessante, eu gostei muitos dos Drengir, estava animada demais para vê-los e achei incrível o fato deles serem sencientes, de falarem e também de exalarem uma forte escuridão. O debate sobre os artefatos, e o lado negro/a escuridão que os prendia foi bastante interessante. A Estação em si, é cativante e cheia de surpresas, foi algo que me deixou muito animada. Eu gostei de os Nihil terem fingido serem refugiados indefesos para descobrirem os segredos dos Jedi e gostei dessa relação do Reath com eles, porém, para mim eles são considerados como um segundo plano aqui nessa história, eles começam a ser mais importantes no final, mas acabam sendo ofuscados pela própria ameaça dos Drengir, não que seja algo ruim, mas julgo que aqui eles foram utilizados apenas como um artifício para planos mais importantes no futuro.
Para ser sincera eu tive uma experiência um pouco conturbada com esse livro, pois demorei demais para ler, não tinha muito tempo, nem muito animo devido a outras obrigações, apesar de no final ter engatado bastante, então pode ser que esse fato tenha influenciado a minha avaliação final que foi 4 de 5 estrelas. Eu gostei mais de The Light of the Jedi, e pensei que aqui o livro demorou um pouco para fluir e que a primeira parte na Estação ficou muito abstrata e maçante, com a gente descobrindo os verdadeiros vilões apenas no final do livro, foi algo que me incomodou, mas também não sei se foi devido ao enorme tempo que eu levei para ler.
No entanto, o livro tem personagens e debates e aspectos que compensam este pequeno detalhe e que faz ele ser incrível e extremamente rico para o universo de The High Republic. Talvez quem o ler de forma mais rápida não tenha essa mesma impressão que eu tive, o que poderia fazer com que ele chegue a 5 estrelas. Mas de qualquer forma é um livro que vale muito a pena, que complementa e acrescenta bastante essa nova era e que tem momentos incríveis, então recomendo bastante!