douglaseralldo 19/08/2020
10 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS SOBRAS DE ONTEM, DE MARCELO VICINTIN OU DE CÓCORAS AO AMERICAN WAY OF LIFE
1 - Entre o azedo, o ácido e o amargo, Marcelo Vicintin propõe um olhar resignado e depressivo de uma nação estruturalmente selvagem, marcada por privilégios e decadências numa volúpia constante de um canibalismo social, aqui, não ambientado em nossa pobreza, mas sim um naturalismo levado às elites e a uma burguesia nacional pinceladas pela crítica de um agridoce que eleva a percepção da decepção e fracasso que envolve seus narradores;
2 - Aliás, vale dizer que este romance parece enveredar-se para algo talvez cada vez mais presente em nossa literatura e que em síntese pode encontrar um pedaço de sua tradução na palavra "estrutural". Talvez seja esse momento que vivemos, de tudo posto pútridamente aos nossos olhos e olfatos, mas cresce obras que parecem querer olhar para as estruturas de uma nação em declínio. No Marrom e Amarelo, de Paulo Scott temos em discussão, por exemplo, o racismo estrutural. Já Apátridas, de Alejandro Chacoff e este As sobras de ontem parecem querer adentrar os privilégios estruturais de um país marcado pelo poder do dinheiro, dos atalhos e, claro, dos privilégios;
3 - Nesse aspecto, temos então uma abordagem inteligente e distinta. Se ao mesmo tempo que mergulha nas estruturas privilegiadas de uma elite econômica, o autor, contudo, trata da peculiaridade do Brasil no que se refere à alternância nas pirâmides do topo social, lugar seleto e historicamente marcado quedas e ascensões. O argumento se torna mais válido quando o autor compara a permanência no topo de famílias nobres americanas e a constante mudança dos sobrenomes no cume da pirâmide social brasileira. É sobre quedas e ascensões "no paraíso" verde-amarelo que Vicintin apresenta uma crônica tragi-nada-cômica de um desencanto que corre na direção da desolação;
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