bardo 26/10/2022
Eis mais um dos livros um tanto intrigantes do Vonnegut que retoma alguns temas já abordados em livros anteriores. Não é exatamente um livro fácil, existe uma ironia sarcástica nele que provavelmente deve incomodar ainda mais os norte-americanos do que leitores de outros países. Fica muito claro que existem nuances que só um conhecimento maior da cultura norte-americana permite perceber. Seja como for são bem visíveis o olhar um tanto cínico e cruel contra o "American Dream" e contra as elites. Num certo sentido Eliot é meio um São Francisco moderno, mas ao contrário deste último, em que as biografias tendem a inspirar simpatia, Eliot é um personagem que confunde o leitor. Ao mesmo tempo que nos toca seu "amor" desinteressado definitivamente ele não é alguém que seja fácil conviver. Seu espelho tampouco é mais simpático e sua nêmesis é talvez o personagem mais estranho do livro. Vonnegut coloca aqui uma lente sobre a pretensa "elite" norte-americana e as origens no mínimo questionáveis de seu poder e importância. Vale ainda dizer que é um tanto deprimente perceber que o pensamento da direita adoecida daquela época ainda se faz tão atual, alguns discursos de personagens são ditos quase ipsis litteris por ultra-direitistas mundo afora.