jota 28/12/2011Felicidade e LuluMagistral história de Flaubert sobre uma pobre criada, Felicidade, que passa meio século servindo à mesma patroa, sacrificando, sem ressentimento, a própria vida à vida alheia.
Apega-se, sucessivamente, a um noivo brutal, aos filhos da patroa, ao sobrinho, e a um velho doente. São todos casualmente retirados de sua vida: morrem, partem, ou simplesmente se esquecem dela. A religião é o consolo que compensa a desolação de sua vida.
E um dia lhe dão um presente especial. É Lulu, um papagaio, que ela passa a cuidar como se fosse um filho. Mais até que isso, na verdade. Mas ele também morre, para desespero de Felicidade. Algum tempo depois ela manda empalhá-lo, para tê-lo consigo até o final de seus dias.
Passa a venerar a ave empalhada e em sua cabeça o Espírito Santo assume a forma de Lulu. Pois os pombos (ou cordeiros) não têm o poder da fala, os papagaios sim. E daí vamos para o final, que é grandioso, não podia mesmo ser diferente. E cada leitor que se extasie a sua maneira.
Não importa tanto assim saber o que acontece ou não nessa história singela. Importa mais o jeito como Gustave Flaubert vai nos contando tudo, construindo sua fascinante personagem, tornando a história interessante em todos os seus detalhes. Se você considera, por exemplo, O Alienista (de Machado de Assis), um conto genial, vai achar o mesmo de Um Coração Singelo. Se não, sinto muito...
Considerada pelos críticos uma pequena obra-prima, foi a partir desta novela que Julian Barnes escreveu um de seus livros mais importantes, O Papagaio de Flaubert. Um livro à altura do talento do criador de Madame Bovary.
Cinco estrelas, louvação, epifania.