MatheusPetris 11/11/2023
Bestseller brasileiro ainda editado, A Droga da Obediência é um exemplar de literatura de gênero, uma narrativa policial e detetivesca. Por se saber assim, sua construção narrativa é puramente focada no enredo. Não há muito espaço para descrição de espaço, de personagens, tudo se converte em ações. Na clássica e gradativa progressão do mistério, o suspense se alastra, as perguntas que se multiplicam, pistas levam a outras pistas.
“Os Karas” , o intitulado grupo secreto, é pautado em estereótipos: cinco personagens, com cinco características que servem ao desenrolar da trama, suas habilidades. Exageradas, inverossímeis, mas que dão o sabor aos jovens leitores. Há, também, o velho hábito do “melhor” em sua atividade, da figura de “destaque”, aquilo que os pré-adolescentes e adolescentes querem sempre: ser o foco das atenções. Ironicamente, o grupo é secreto e quer se manter assim, embora alguns deles sejam populares na escola. O grupo secreto é o foco detetivesco.
Similar às narrativas policiais, a investigação acontece em paralelo a corporação policial institucionalizada, esta, como sempre, corrupta. Os detetives: o bom e o mau, que se invertem no desenlace, outro elemento comum. E há mais, pois é necessário prender os leitores, então, um elemento mais próximo das HQ’s: o supervilão e seus planos mirabolantes.
O narrador (sempre em 3º pessoa e onisciente seletivo) incentiva as perguntas, reitera informações, dialoga como o leitor, o instiga. Mas não é só ele que traz as reflexões que a história atiça. Os diálogos, as próprias crianças, entendem a necessidade da “desobediência”. Nesse sentido, o próprio título é um chamariz. A “droga” serve tanto como adjetivo quanto substantivo. Sim, a obediência é uma droga; Sim, é a droga da obediência, o farmaco, e grande catalisador da trama.
O absurdo, tradicionalmente, toma forma nesse tipo de narrativa. Aqui não é diferente. No desvendamento da identidade do vilão, a reflexão, as crianças como os grandes heróis e a possibilidade da continuação. Sabemos que fim levou, afinal, uma das séries/coleções mais vendidas do Brasil. Os Karas continuaram — e continuam.