spoiler visualizarHenrique965 02/10/2024
"Não senhor; ele pegou em nada, levantou nada e cingiu nada"
Percorri poucas vezes os corredores da biblioteca da escola, primeiro porquê lamentavelmente existe um aparato na escola pública chamado porta, ironicamente ficava fechada, quando aberta não se podia entrar (um paradoxo aquela porta. "Feche antes de entrar"). Dada a revolta, nós, alunos, batiamos no sistema- não na porta- roubavamos livros. Eu pelo menos devolvia, não posso dizer o mesmo de outros colegas. Numa dessas peguei, acidentalmente, uma seleção de contos de Machado de Assis, que fui ler um tempo depois. Li alguns, dentre esses O Alienista e me apaixonei. O jeito que o nosso bruxo colocava as palavras, fazia referências (Ester Eggs maravilhosos), as ironias, o humor, a quebra de quarta parede (que delícia conversar com o defunto Machado), tudo isso me encantou. Fiquei feliz em saber que teria de pegar Quincas Borba para ler (Obra obrigatória na Fuvest). Sobre o livro, não sei se contaria bem minhas sensações ao ler, na verdade enrolei e enrolei para pensar no que colocar numa resenha de uma obra dessas, pois bem, irei direto ao ponto sem contextualizar...
Primeiramente muitas são as resenhas que afirmam em como os "amigos na riqueza" de Rubião usam desse para se beneficiarem (Relação de interesse). E isso de fato é verdade, é visto com Palha, Sophia, Dr. Camacho, salvo talvez o Major e sua filha, todos de certa forma se aproveitaram muito bem das fortunas de Rubião. Porém noto um ar que dão a Rubião de ingenuidade, como se esse agisse análogo a um idoso analfabeto com Alzheimer que é explorado pelo genro ou algo do tipo. Na verdade o que percebi foi muito mais o contrário, Rubião que oferecia e distribuia sua fortuna. O próprio Palha- vê que loucura- se mostra preocupado com seu patrimônio em uma das cenas, recomendando que feche um pouco o bolso. No entanto é óbvio também, vale dizer, que a preocupação se dava, talvez, ao fato de o dinheiro não ir aos seus negócios, não tornemos Palha mais ou menos santo (haha, altas referências). Inclusive fica aí um buraco que eu mesmo não entendi muito bem: Palha quem cuidava do dinheiro de Rubião? Que pilantra rapaiz. O que quero dizer é que Rubiao em si nunca foi ingênuo, talvez egocêntrico- assim como ricos, que não conseguem se sentir inferior no capital e compram e pagam isso ou aquilo somente para demonstrar um certo poder (o "parecer ter"), esse ego protagonizou diversas cenas, como aquela em que ele se associa a comissão de Alagoas, e se torna o maior contribuinte financeiro disparado após descobrir que alguém doava mais dinheiro que ele, o colar caríssimo dado a Sophia, a associação à folha de Camacho, tudo isso mostrava um ego forte lá dentro que se agitava cada vez que se via desafiado. No primeiro exemplo, perceba que na cena Palha o coagia para manerar na quantia que esse devia dar, mas note a maneira com que esse fazia isso, parecendo conhecer bem Rubião, Palha de maneira genial vai aos poucos ferindo seu ego, chegando ao ápice- momento em que diz que há um doador maior que Rubião. Palha brinca com o jeitinho meio abrasileirado de se comunicar, dizendo o contrário do que se quer dizer. Rubiao então é rico, e quer ser visto como tal- muito rico por sinal, percebi isso ao descobrir que 1 conto de réis equivaleria a 123 mil reais hoje, loucura- e isso será seu calcanhar de Aquiles. O desejo de ser visto de maneira grandiosa aumenta e acaba tendo o triste fim de morrer pobre, louco e sozinho- salvo a companhia do emblemático Quincas Borba, o cachorro (ou filósofo?). Morre então erguendo um chapéu ou bacia (achei um detalhezinho genial de Machado ao nem ao menos o narrador definir o que de fato é, tamanha a importância rs) acreditando ser uma coroa. Pegando em nada, erguendo em nada e cingindo nada, morre. Adorei essa frase. É que talvez passei a ver os "nadas" erguidos aqui no mundo real.
"Ao vencedor..." as batatas