spoiler visualizarScappa 13/06/2024
Leitura importante para quem gosta de literatura, apesar de não ter entretenimento algum
Como uma obra clássica do romantismo, as emoções estão sempre a flor da pele, com Werther sendo alguém extremamente passional (para não dizer melodramático) e, como acontece com a maioria das obras românticas, não foi um livro que me trouxe muito prazer durante a leitura. Em grande parte das obras tenho sempre a mesma sensação: a de estar lendo o equivalente em prosa de uma novela das nove. A história acompanha um jovem burguês (e por ocorrer pouco antes da Revolução Francesa, a questão de classes ainda era extremamente presente, com Werther fazendo parte de um grupo que vivia no limbo entre os camponeses e a nobreza) que se muda para uma cidadezinha onde passa a ter uma vida bucólica, temos até a impressão de ser um ano sabático, afinal não faz nada de sua vida. Lá conhece Charlotte, uma jovem pela qual se apaixona porém que já está comprometida com Albert, um rapaz trabalhador que é basicamente o oposto de Werther: racional e prático. A obra segue a relação dos dois e os eventos que decorrem ao longo deste tempo até chegarmos ao final conhecido da obra: o suicídio de Werther quando se dá conta que não será correspondido. Esse roteiro é extremamente bem conhecido, afinal é uma das principais obras do maior escritor alemão de todos os tempos, e já o tinha em mente antes mesmo de começar minha leitura - decidi embarcar pela jornada, não pelo destino.
E posso dizer que minha experiência foi mista. Os sentimentalismo excessivo de Werther era uma constante irritação, se jogando ao chão quando se sentia comovido, beijando cartas que recebia de Lotte, desejando sair dessa vida a qualquer coisa que não fosse como desejasse - o esteriótipo de uma criança mimada que nunca aprendeu a lidar com seus sentimentos. Não posso dizer que não me simpatizei por ele, afinal consegui ver muito de algumas de minhas próprias paixões adolescentes nessa obra, porém quando presentes em um indivíduo de mais de 20 anos, como é o caso do protagonista, deixam de ser algo bonitinho e só se tornam dignas de dó. Em uma análise mais focada no enredo, não há nada de extravagante também. É a história de um homem que se apaixona por uma mulher comprometida e, não sabendo lidar com seus sentimentos e manter apenas na cortês amizade, decide por tirar sua própria vida. Ponto. Não o que adicionar. Não há um grande conflito que muda a narrativa, nenhuma reviravolta na história. É um homem com uma paixão não correspondida. É isso.
Porém não foi um livro de todo negativo. A prosa de Goethe justifica o porquê de ser um dos grandes autores da literatura mundial. O modo como escreve não é a prosa mais bela ou musical, mas cumpre seu dever de maneira louvável. O fato do romance ser epistolar, portanto escrito em primeira pessoa e consequentemente o narrador não ser confiável traz uma camada a mais para a obra. Será que Lotte realmente demonstrava esse carinho todo por Werther ou é apenas a interpretação emocionada por um jovem apaixonado de uma pessoa simpática? O modo como o tema do suicídio é retratado diversas vezes durante a obra, com Werther expressando seu desejo de sumir, de morrer, de deixar esse mundo várias vezes quando não se cumpre seu desejo atua como um foreshadowing para o desfecho final da obra. Isso inclui também a discussão que tem com Albert, o qual possui uma visão bem mais racional (e um tanto até que descrente) em relação ao suicídio, enquanto Werther faz uma defesa dessa ação como última tentativa da alma desesperada.
Não é um livro particularmente gostoso de se ler, não sei até que ponto consideraria que me entreteu, porém considero sua leitura importante no repertório daquele que quer expandir sua bagagem literária.