Fernanda631 21/01/2023
Os Lusíadas
Os Lusíadas foi escrito em Luís de Camões e foi publicado em 1572. É um clássico da literatura portuguesa.
Os Lusíadas é um grande poema épico de Luís de Camões,foi publicado durante o Renascimento em Portugal. Nesse período, os autores buscavam sua inspiração na cultura da Antiguidade greco-latina. Eneida, de Virgílio, que narra a fundação de Roma e outros feitos heróicos de Enéias, e a Odisséia, de Homero, que conta as aventuras do astucioso Ulisses, foram certamente as maiores influências de Camões.
Aliás, para contar a história do povo português e de Vasco da Gama, Camões inspirou-se na antiguidade clássica, utilizando o poema épica, um gênero poético que faz uso da grandiloquência para contar a história de um povo, algo que podemos conferir em Ilíada ou Odisseia do grego Homero e até mesmo em Eneida, do poeta romano Virgílio.
Em dez cantos, subdivididos em estrofes de oito versos, Os Lusíadas trata das viagens dos portugueses por “mares nunca dantes navegados”. Uma das características da épica é a narração de episódios históricos ou lendários de heróis que possuem qualidade superior.
As proporções dessa obra e a linguagem arcaica podem, de início, afastar o leitor. As principais dificuldades encontradas na leitura são os termos antigos utilizados, a sintaxe truncada e o grande número de informações mitológicas e históricas. Mas é possível compreender os principais elementos, porque o poema épico tem como finalidade narrar a própria história, ou feitos heróicos que estão no terreno da mitologia. As descrições são minuciosas, abrangendo todos os detalhes da paisagem, as cenas de batalha e as vestes dos guerreiros.
Ao longo da leitura fica claro que grande parte do poema inicia-se no "In media res" (no meio das coisas, técnica literária em que a narrativa começa no meio da história), ou seja, Camões optou pela ação e acompanhamos a viagem de Vasco da Gama com seus companheiros já em curso para o Cabo da Boa Esperança, lugar esse que servia como ponto para alcançarem a Índia, passando pela costa do continente africano.
Durante a viagem, os lusitanos enfrentam diversas dificuldades e contratempos, muitas delas foram impostas pelos mouros, por alguns povos hostis e outras dificuldades que foram criadas pelo deus Baco, que visa dificultar ao máximo a empreitada de Vasco da Gama e seus companheiros. Não obstante, os portugueses ainda precisam enfrentar um gigante que personifica o Cabo das Tormentas e até mesmo tempestades mortais. Contudo, os portugueses demonstram coragem, eles comprovam o seu valor no mar e fazem prevalecer a fé cristã nas dificuldades.
Apesar da fé cristã do povo daquela época, fica claro a presença da mitologia greco-romana nas interferências cometidas pelos deuses da antiguidade clássica durante a viagem dos portugueses. Essa interferência também pode ser benéfica, pois os marinheiros portugueses são auxiliados pelo deus Marte e deusa Vênus, enquanto são perseguidos por Baco e Netuno. Além disso, o próprio autor em alguns momentos invoca em sua narrativa as ninfas como forma de inspiração. Essas figuras mitológicas são citadas e consideradas criaturas demoníacas em um documento de liberação dado pela inquisição.
Os Lusíadas foi dividido em dez cantos que foram subdivididos em estrofes de oito versos.
A épica, como gênero, diferencia- se da tragédia. Na tragédia o personagem principal envolve-se em uma trama que acabará por aniquilá-lo. O espectador assiste, aflito, ao trágico encontro do protagonista com seu destino inevitável e cruel.
No gênero épico, o “elemento de tensão” desaparece e surge em seu lugar o “elemento retardador”. Os personagens épicos não têm um desenvolvimento psicológico elaborado. Eles seguem suas características básicas, que não mudam no decorrer da história. A épica deve ser lida, portanto, de maneira tranqüila e minuciosa, como uma aventura que se passa em câmera lenta.
O poema é constituído por 1.102 estrofes de oito versos cada uma, o que resulta em um total de 8.816 versos. Camões utilizou em sua obra somente versos decassílabos, ou seja, de dez sílabas métricas. Esse tipo de verso era conhecido como “medida nova” e foi levado da Itália para Portugal por Sá de Miranda, em 1527, fato que marca o início do classicismo português.
As rimas aparecem da seguinte forma: o primeiro verso rima com o terceiro e o quinto; o segundo verso rima com o quarto e o sexto; e o sétimo e o oitavo rimam entre si (o que é representado pelo esquema ABABABCC). Essas estrofes são chamadas de oitava-rima. Além disso, o poeta inseriu na obra diversas rimas internas, o que causa efeitos de assonância (sonoridade das vogais) e aliteração (sonoridade das consoantes).
Assim como a Odisséia, de Homero, o poema de Camões é composto de cinco partes: Proposição, Invocação, Dedicatória, Narração e Epílogo. Na Proposição — que aparece no Canto I, da primeira à terceira estrofe —, o autor nos apresenta o tema de seu poema: a viagem de Vasco da Gama às Índias e as glórias do povo português, comandado por seus reis, que espalharam a fé cristã pelo mundo.
A segunda parte – também no Canto I, quarta e quinta estrofes – consiste na invocação das musas do rio Tejo, as Tágides. Essa é mais uma indicação de que Camões retirou seu modelo da cultura greco-latina.
Para os gregos, o poeta era um instrumento de uma força superior. Na Dedicatória — Canto I, da estrofe 6 à 17 —, o poeta, após inúmeros elogios, dedica a obra ao rei dom Sebastião, a quem confia a continuação das glórias e conquistas que serão narradas em seguida. Na Narração, o poema propriamente se desenvolve — do Canto I, estrofe 18, ao Canto X, estrofe 144. Nela, é contada a navegação de Vasco da Gama às Índias e as glórias da história heróica de Portugal.
O Epílogo – Canto X, estrofes 145 a 156 – consiste num lamento do poeta, que, ao deparar com a dura realidade do reino português, já não vê muitas glórias no futuro de seu povo e se ressente de que sua “voz enrouquecida” não seja escutada com mais atenção.
Existem três episódios em Os Lusíadas que merecem destaque por sua importância: o de Inês de Castro, o do Velho do Restelo e o do Gigante Adamastor.
O episódio de Inês de Castro aparece no Canto III, durante o relato de Vasco da Gama ao governante de Melinde. Trata-se da história do amor proibido de Inês, dama de companhia da rainha, pelo príncipe dom Pedro. Ao saber do envolvimento do príncipe com ela e preocupado com a ameaça política oferecida por Inês, que tinha parentesco com a nobreza de Castela, o rei dom Afonso manda executar a jovem.
O rei percebe então que o amor de Inês por seu filho era sincero e decide mantê-la viva, mas o povo, representando o interesse do Estado, o obriga a executar a moça. Dom Pedro, ausente do reino na ocasião do assassinato, inicia depois uma vingança sangrenta contra os executores e coroa o cadáver de Inês, aquela “que depois de ser morta foi rainha”.
O relato sobre o Velho do Restelo encontra-se no Canto IV. Na praia lisboeta de Restelo, um velho profere um discurso poderoso contra as empresas marítimas de Portugal, que ele considera uma ofensa aos princípios cristãos, uma vez que a busca de fama e glória em terras distantes contraria a vida de privações pregada pela doutrina católica.
O episódio do Gigante Adamastor figura no Canto V. Ele aparece quando Vasco da Gama e sua tripulação se dirigem ao Cabo das Tormentas, ou Cabo da Boa Esperança, personificado pela figura de Adamastor. Esse gigante da mitologia grega se apaixonara pela ninfa Tétis, que o rejeitara. Peleu, o marido de Tétis, transformou então o gigante em pedra. Mais uma história de Camões em que o amor, “áspero e tirano”, causa o infortúnio a quem se deixa levar por ele.