Thiago275 06/07/2023
Uma verdadeira aventura, em mais de um sentido
Publicado pela primeira vez em 1572, Os Lusíadas é um poema épico composto de 10 cantos e 8816 versos de decassílabos, em que Luís de Camões narra a história de Portugal até o período das grandes navegações.
Ao contrário da Eneida e da Odisseia, inspirações de Camões, e que são epopeias com um herói protagonista, em Os Lusíadas o herói é o próprio povo português, que, encurralado na ponta da península ibérica, não teve outra opção a não ser singrar por mares nunca dantes navegados.
Camões se utiliza da viagem de Vasco da Gama para a Índia, contornando a costa da África (um trajeto nunca antes feito e, por si só, heroico) para glorificar a história de Portugal e, mais especificamente, de seus reis e navegadores.
Embora o poema seja, na sua maior parte, uma ode a Portugal, é de se notar que em alguns trechos existem críticas à busca da glória e da fama, que resultarão na guerra e na morte. Sem falar nas agruras passadas em alto mar, como as tempestades e o escorbuto, a horrível doença que acometia os marinheiros e que é descrita em alguns versos.
Os Lusíadas não me arrebatou como A Divina Comédia ou a Ilíada, mas devo reconhecer que o poema tem passagens belíssimas, como o trecho em que as naus estão deixando Portugal rumo às Índias, a descrição do reino de Netuno, etc.
Não é um texto fácil, no entanto. As inúmeras referências à mitologia, além das citações a personagens históricos ou lendários fazem com que seja imprescindível uma edição anotada. Não achei o vocabulário particularmente difícil, mas a construção das frases, que muitas vezes invertem objeto e sujeito, requer atenção redobrada.
Apesar de tudo isso, acho que vale a pena o esforço. Pensar que Camões escreveu essa obra em meio a batalhas e naufrágios, e mesmo assim conseguiu contar uma história em versos, coerente, e rimando, só pode ser motivo de admiração.
Além disso, não precisamos nos valer de traduções para lê-lo. Afinal, essa é talvez a obra mais importante da nossa linda (inculta e bela) língua portuguesa.
Todo leitor que se preze deve, um dia, ler pelo menos trechos dessa epopeia e atirar-se no Oceano dos versos camonianos. Vasco da Gama ficaria orgulhoso.