spoiler visualizarSue 30/05/2024
É como se eu tivesse virado o protagonista
Esse livro se trata de Josef K., um homem que se foi acusado de um crime do qual a Justiça não informa, e a história se desenrola a partir disso. Eu considero esse livro denso, apesar das poucas páginas (252), e com uma linguagem um pouco mais rebuscada na tradução de Torrieri Guimarães. Demorei para concluir o livro pois sempre ficava entediada, no entanto, acredito que seja essa a intenção do autor quando o escreveu.
O personagem principal procura de todas as formas possíveis entender qual a acusação para assim se defender melhor, pois ele acredita que é inocente, e assim como ele não sabe, eu como leitora, também não sei. A sensação que eu tive foi como se eu fosse Josef. Assim como algumas situações eram absurdas para o personagem, para mim também era. Como por exemplo, quando Josef estava na casa de um pintor apenas para tentar obter informações sobre o seu processo. Por que um pintor saberia algo sobre justiça? E o pintor é questionado por isso. Ou então, quando ele estava na casa do advogado e observava Block se humilhando perante a quem tem o poder, ainda que enfermo, de tornar a vida mais difícil ou mais fácil, demonstrando assim uma relação de poder e dinheiro para os menos afortunados. Retrata bem os dias de hoje, assim como os dias em que Kafka viveu, e vou além, acredito que retrata a visão dele sobre como funciona a Justiça e como é a profissão no ramo da advocacia.
Eu senti falta de um pouco de emoção e drama. Para mim, Josef era um cara sério e independente, então não senti o desespero do personagem vendo que seu processo não ia bem. Quando ele estava na igreja para um encontro com um italiano e o Sacerdote explica que seu processo vai mal e teme por ele, eu senti falta da expressão de terror e tristeza no personagem principal. E principalmente, no final do livro, cuja cena é o assassinato de Josef K. Antes disso acontecer, ainda que estivesse sem fé sobre a absolvição, ele clama por ajuda e reclama da falta de um Juiz. E suas últimas palavras foram ?Como um cachorro?, o que me leva a crer que foi em referência ao capítulo inacabado, onde Josef sugere que Block esteja sendo tratado como um cachorro.
Confesso que não entendi muito bem o final. Não entendi quem o matou e porque a senhorita Burstner aparece nas últimas páginas do livro, que também aparece no primeiro capítulo do livro, quando o personagem é levado de casa por dois homens. Penso que talvez alguém já pretendia matar ele e depois de 1 ano finalmente o matou, mas é apenas uma suposição. Não encontrei nada que justificasse o homicídio, e acredito que seja porque este é um livro inacabado. Ele morreu sem saber o motivo pelo qual foi processado. E eu ganhei o benefício da dúvida. Ele é inocente até que se prove o contrário.