Queria Estar Lendo 07/07/2020
Resenha: O Rei Perverso
A aguardada continuação de O Príncipe Cruel, O Rei Perverso é uma sequência carregada em energia e tensão, com tramoias políticas e traições capazes de roubar seu fôlego do início ao fim.
Esta resenha pode conter alguns spoilers do primeiro volume.
Depois de coroar Cardan como rei através do seu controle sobre ele, Jude se torna sua conselheira nos assuntos da coroa, o que a coloca em colisão direta contra os interesses de outros membros da corte; forte e manipuladora, ela sabe o suficiente do reino dos imortais por ter sobrevivido a ele por tanto tempo, mas será o bastante para lidar com o poder? Porque ele consome; não só ela, mas aqueles que o almejam também.
Quando um inimigo iminente coloca os meses de tranquilidade do governo de Cardan em xeque, Jude precisa rever suas próprias alianças e procurar traidores nas sombras dos seus aliados. O tabuleiro de acordo com as regras feéricas é incerto, e mesmo uma mortal astuta como Jude pode escorregar na hora de tomar uma decisão.
"O poder é muito mais fácil de ser adquirido do que sustentado."
Holly Black estabeleceu um universo fascinante impossível de esquecer. Nessa sequência, ela usa todos os artifícios que deram muito certo no primeiro volume para construir um cenário tenso e incerto, com tramoias políticas bem boladas e plot twists de te deixar de boca aberta.
Jude, minha adora e manipuladora Jude, continua uma protagonista impecável. Sua sede de poder é nítida e crescente e bate de frente com o lado humano e racional que ela ainda sustenta. Uma mortal jogando o jogo dos tronos em meio a imortais perigosos é de um risco absurdo, mas ela sabe quais peças mover; e, quando não sabe, se esforça para fazer parecer que tem o controle da situação.
"Eu ouvi dizer que, para mortais, a sensação de se apaixonar é parecida com a de sentir medo. Seu coração bate mais rápido. Seus sentidos ficam mais alertas. Você se sente desnorteada, até um pouco tonta. Estou certo?"
Eu gostei de que mesmo com essa postura mais régia e fria, Jude ainda tem seus momentos de incerteza e de fragilidade. Ela ainda é só uma garota - agora mais solitária, já que traiu o pai adotivo e se afastou das irmãs - lutando para sobreviver. A coroa está em suas mãos, o rei, preso às suas cordas para mover como bem desejar, mas Jude sabe que não pode contar só com isso. Para garantir que Cardan continue no trono e que a ordem continue, ela precisa dos aliados certos; e a ameaça de uma guerra chega no pior momento possível.
Sua relação com os membros da Corte das Sombras e com os próprios conselheiros da coroa é marcada por incerteza. Com Cardan, essa incerteza é uma corda bamba - às vezes eles parecem em total sintonia, como se lessem o caos um do outro de maneira única. Às vezes soam distantes como os universos aos quais pertencem, dois órfãos sombrios e abandonados pelo mundo que encontram na crueldade e na manipulação um caminho para sobrevivência.
"Me beije de novo. Me beije até que eu enjoe disso."
Falar sobre o Cardan é muito difícil porque ele é tão bem construído que é impossível de entender; quando eu achava que havia fragilidade em sua fala, havia frieza. Quando a cena mostrava seriedade, havia um sorriso. Quando ele olhava com crueldade para Jude, havia entrega. Ele é um garoto perturbado e complicado e talvez por isso eu o ame tanto; carrega o mesmo tipo de caos selvagem da protagonista, o mesmo coração inalcançável que Jude teme entender dentro do próprio peito, quem dirá ao analisar o feérico com quem divide um laço de poder.
Eu reitero que se encontrasse qualquer traço de abuso no relacionamento dos dois, não teria o respeito pela Holly como eu tenho; Cardan e Jude são os dois lados de uma mesma moeda. A mesma aura de pandemônio incrontrolável que o rei carrega, sua conselheira e representante também possui. Os momentos vulneráveis de Cardan são raros tais como os de Jude; eles cresceram com a crueldade e se tornaram imunes e parte dela - mas, talvez, consigam encontrar algo mais um no outro.
"Me dê uma ordem novamente e eu mostrarei a você o que é se envergonhar. O joguinho do Locke não vai ser nada perto do que eu ordenarei que você faça."
E com licença que esse livro desenvolve uma tensão sexual entre os dois que MISERICÓRDIA MEU DEUS. Quase morri.
O cenário deslumbrante das terras imortais é um contraste à aura sinistra e mesquinha que seus habitantes carregam. Nomes que ganharam a história no primeiro livro aqui se desenvolvem dentro dos seus arcos individuais; a irmã de Jude, Taryn, lida com a proximidade do casamento e o afastamento da gêmea, enquanto seu noivo, o traiçoeiro Locke, se esconde entre as sombras e sorrisos tenebrosos e a máscara de servo das vontades de Cardan.
O livro explora um pouco mais sobre a Corte das águas, um império desconhecido que reside sob o oceano e que parece despertar para exigências que colocam o governo construído por Jude em risco. E, como eu disse, Holly constrói essa história através de intrigas políticas e tensões crescentes e entrega um final de tirar o fôlego - o tipo de fim que te derruba no chão e te deixa lá por horas a fio. Se eu puder te dar uma dica, é uma só: LEIA SÓ QUANDO TIVER O TERCEIRO VOLUME EM MÃOS!
"Se ele achasse que eu era mau, eu seria muito pior."
O Rei Perverso pegou minhas expectativas, riu na cara delas e falou "querida, observe" com um tom jocoso, porque esse livro foi reviravolta atrás de reviravolta de deixar minha cabeça nas nuvens. Uma obra gloriosa que me deixou implorando por mais
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